Dirigido por Cláudia Priscila, longa estreia nesta sexta-feira
Quinta, 24 de Novembro de 2011, 21h15
Divulgação
'Leite e Ferro' estreia numa semana em que o uso de algemas
em presas parturientes está em pauta
Flavia Guerra - O Estado de S.Paulo
Em Leite e Ferro não há troca de tiros, perseguições, lutas, nem brigas,
nenhum sangue. Mesmo assim é um filme violentíssimo. Afinal, é difícil imaginar
violência maior que o contraste entre as grades de uma cadeia e uma mãe
amamentando, ou uma mãe com o bebê nos braços contando como ouviu de um
policial: "Você está grávida, amarrada a uma grade no chão frio? E eu com
isso, quem mandou você abrir esse b....tão?" E o que dizer da violência de
se separar (algumas para sempre) de seu bebê após passar meses convivendo 24
horas por dia com ele? "A separação é triste. Não consegui encontrar forma
de filmar e incluir no filme. É um vulcão de sentimentos", conta Cláudia
Priscila, diretora de Leite e Ferro, melhor documentário e melhor direção de
documentário no Festival de Paulínia 2010.
Resumidamente, o filme acompanha a rotina das presas que se tornam mães na prisão e estão alojadas no CAMHMP (Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa) para que amamentem seus filhos até os quatro meses, quando devem se separar dos bebês, então encaminhados às famílias, amigos ou instituições.
Como numa roda de amigas que poderia estar em um salão de beleza, essas mulheres conversam entre si (e também para a câmera) sobre temas absolutamente "normais": amor, beleza, fidelidade, dores e delícias de se tornar mãe, parto... Não passaria de um papo de meninas (com tudo de bom e ruim) se o assunto amor + fidelidade + traição não ganhasse o adendo: o homem se mantém leal e visita a mulher na cadeia? Ou se a hora do parto não incluísse algemas e correntes. "Eu tinha de tomar banho com uma corrente amarrada nos pés. Era pesado e meus pontos da cesária abriram tudo", relata uma das presas.
Por coincidência, Leite e Ferro estreia numa semana em que o uso de algemas em presas parturientes está no centro das discussões. "Inclusive a Defensoria Pública está preparando ações por danos morais contra o Estado. E o filme vai ser usado como instrumento nesse processo. Fico muito feliz do meu filme poder romper a barreira do cinema e ser de fato um documento", conta Cláudia, que teve a ideia para filmar Leite e Ferro quando teve seu filho Pedro, hoje com 8 anos. "Uma mulher em trabalho de parto não vai fugir. Ela vai dar dez passos. Sem contar que ficam policiais na porta do hospital. Não precisam ser algemadas. É uma violação de um direito feminino muito séria, um desrespeito a esse momento. Que elas percam a liberdade e cumpram suas penas, mas com dignidade."
O filme também se tornou 'histórico', pois o CAMHMP não existe mais. A presas são enviadas a centros hospitalares (a maioria no Complexo Carandiru), onde há a Penitenciária Feminina. "80% delas têm filhos. A ideia é pensar em pena alternativa. É melhor que as cumpram em liberdade, mas que suas famílias não desmoronem."
Resumidamente, o filme acompanha a rotina das presas que se tornam mães na prisão e estão alojadas no CAMHMP (Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa) para que amamentem seus filhos até os quatro meses, quando devem se separar dos bebês, então encaminhados às famílias, amigos ou instituições.
Como numa roda de amigas que poderia estar em um salão de beleza, essas mulheres conversam entre si (e também para a câmera) sobre temas absolutamente "normais": amor, beleza, fidelidade, dores e delícias de se tornar mãe, parto... Não passaria de um papo de meninas (com tudo de bom e ruim) se o assunto amor + fidelidade + traição não ganhasse o adendo: o homem se mantém leal e visita a mulher na cadeia? Ou se a hora do parto não incluísse algemas e correntes. "Eu tinha de tomar banho com uma corrente amarrada nos pés. Era pesado e meus pontos da cesária abriram tudo", relata uma das presas.
Por coincidência, Leite e Ferro estreia numa semana em que o uso de algemas em presas parturientes está no centro das discussões. "Inclusive a Defensoria Pública está preparando ações por danos morais contra o Estado. E o filme vai ser usado como instrumento nesse processo. Fico muito feliz do meu filme poder romper a barreira do cinema e ser de fato um documento", conta Cláudia, que teve a ideia para filmar Leite e Ferro quando teve seu filho Pedro, hoje com 8 anos. "Uma mulher em trabalho de parto não vai fugir. Ela vai dar dez passos. Sem contar que ficam policiais na porta do hospital. Não precisam ser algemadas. É uma violação de um direito feminino muito séria, um desrespeito a esse momento. Que elas percam a liberdade e cumpram suas penas, mas com dignidade."
O filme também se tornou 'histórico', pois o CAMHMP não existe mais. A presas são enviadas a centros hospitalares (a maioria no Complexo Carandiru), onde há a Penitenciária Feminina. "80% delas têm filhos. A ideia é pensar em pena alternativa. É melhor que as cumpram em liberdade, mas que suas famílias não desmoronem."
LEITE E FERRO
Direção: Cláudia Priscila
Gênero: Documentário (Brasil/ 2010, 73 minutos)
Censura: 12 anos.
O Caderno 2 anunciou a entrevista com Cláudia Priscila, diretora do documentário, que não pode comparecer à gravação por problemas de saúde.
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