NEGRIARA
Filmes brasileiros sobre crime, violência e polícia
O cinema nacional, entre 1958 e 2008, apresenta 50 anos
de uma visão aguçada sobre a sociedade brasileira, a persistência da
violência, da desigualdade social e das fragilidades das instituições da
segurança pública. Obras autorais, que ficcionalizam fatos concretos,
apresentam uma linguagem documentária como se estivessem fazendo um
retrato sociológico destas questões no país. Os documentários acabam
sendo uma espécie de glosa do que se produz na cinematografia desde
clássicos como o Assalto ao Trem Pagador (1962).
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No período, o Brasil passou de uma sociedade fortemente rural para
uma sociedade quase que integralmente urbana. O país passou por um
acentuado crescimento populacional, de 60 milhões para quase 190 milhões
de habitantes.
Os níveis de escolaridade aumentaram, os níveis de acesso aos
serviços mais fundamentais aumentaram, houve uma mudança significativa
na composição da população, incluindo nessa mudança o aumento do
conhecimento sobre direitos.
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Afinal, nesse período, o país passou por uma terrível ditadura e por uma
redemocratização sofrível, mergulhada numa crise econômica de grandes
proporções, com a promulgação de uma nova carta constitucional que
ampliou de forma importante o repertório dos direitos de cidadania.
Nesse período, o legado pesado do Estado Novo foi sendo deixado para
trás em prol de um estado neo-liberal, com redução de várias garantias
de ordem trabalhista. As cidades cresceram e começou um modesto mas
decidido processo de interiorização do desenvolvimento econômico. Várias
instituições foram reformadas e houve um crescimento do acesso popular à
justiça com a criação de juizados especiais e de defensorias públicas.
As polícias passaram a sofrer mais pressões da sociedade civil e alguns
mecanismos de controle do uso da força foram sendo ensaiados aqui e ali.
Os filmes indicados pelo projeto Visão Periférica mostram, no entanto,
que os problemas da periferia só aumentaram e se agravaram, com a
expansão do crime organizado, do consumo de drogas, com a corrupção
politica, com as ligações perigosas entre polícia e crime, com as
desigualdades sociais, com as condições de ausência de direitos de parte
importante da população brasileira, que vive à margem do Estado de
Direito, com a persistência de um gigantesco fosso entre o país das
elites e das classes médias altas e os demais grupos sociais, que ainda
buscam justiça e ficam à mercê dos usos privados de nossas instituições.
Essa realidade é visível, sabemos que existe, nos incomodamos com ela,
mas como uma visão periférica, está borrada pela banalidade da violência
e das iniquidades sociais.
Confira a seleção e as sinopses dos filmes.
Visite também o site abaixo para uma visão mais ampla da filmografia nacional e detalhes dos filmes.
Os traficantes do crime (1958) de Mario Latini.
O tráfico de drogas da época é corajosamente abordado. Paulo é chefe de
uma quadrilha de traficantes. Solange, que devido a seu noivo, um
policial encarregado de descobrir como operavam com o tráfico de
tóxicos, ter sido assassinado, torna-se uma grande e prestimosa
colaboradora da polícia. Hugo, detetive da seção de tóxicos e
mistificações, encarregado por seus superiores para descobrir para
descobrir os crimes da bem organizada quadrilha de traficantes.
Maurício, amigo do detetive Hugo, repórter policial de O Dia, que
consegue infiltrar-se, junto com Solange, na quadrilha. Olavo é
aliciador de adeptas à cocaína e outros tóxicos.
O Assalto ao Trem Pagador (1962) de Roberto Farias. Roteiro:
Roberto Farias. Produção: Herbert Richers. Baseado em fatos, o assalto
ao trem de pagamentos do Banco do Brasil ocorrido em 1960, no Rio de
Janeiro. Gangue de bandidos liderada pelo temível Tião Medonho organiza e
executa um roubo do trem (comboio) de pagamentos. Enquanto a polícia
chega a suspeitar de uma quadrilha de bandidos internacionais pela
ousadia do plano, os assaltantes se misturam à realidade da pobreza e da
violência brasileiras. Filme foca os métodos policiais para desvendar o
crime. Um grande clássico.
Cinco vezes favela (1962) de Marcos Farias (Ep.1), Miguel Borges
(Ep.2), Carlos Diegues (Ep.3), Joaquim Pedro de Andrade (Ep.4) e Leon
Hirszman (Ep.5).
1- "Um favelado": Um favelado, desempregado e sem dinheiro, arquiteta um
plano para ganhar dinheiro, mas é descoberto e preso pela polícia. 2-
"Zé da cachorra": Um latifundiário quer de volta suas terras, onde está
instalada uma favela. Um favelado luta contra a passividade de uma
comissão de moradores, que estão aceitando a situação desfavorável que
lhes foi imposta. 3- "Escola de Samba Alegria de Viver": Um favelado,
presidente do grêmio recreativo, divide-se entre lutar pela sua
categoria ou aceitar as imposições comerciais do carnaval. 4- "Couro de
gato": Moradores favelados caçam gatos a fim de usar seu couro para
fabricar tamborins, que serão usados no carnaval. 5- "Pedreira de São
Diogo": No Rio de Janeiro, sobre uma pedreira há uma favela. Ao
perceberem o risco de desabamento dos barracos, em consequência das
explosões de dinamite, os operários incitam os moradores a iniciar
movimento de resistência para impedir um acidente fatal.
A Grande cidade (1966) de Carlos Diegues.
Vinda do Nordeste, Luzia chega ao Rio de Janeiro à procura de seu noivo,
Jasão. Nessa busca, ela conhece Calunga, um malandro carioca que lhe
mostra a cidade e a apresenta para Inácio, um outro nordestino que
deseja loucamente voltar para sua terra. Finalmente, Luzia descobre que o
noivo Jasão mora em uma favela e que se transformou num temido
assaltante. Mas, antes que ela consiga salvá-lo do crime, ambos acabam
sendo vítimas dos conflitos e da violência gerados pela grande cidade.
Imperdível!
O Caso dos Irmãos Naves (1967), de Luis Sérgio Person. A
reconstituição de um caso real, ocorrido no Estado Novo em 1937, na
cidade de Araguari (MG). Tudo começa quando um homem foge levando o
dinheiro de uma safra de arroz. Os irmãos Naves (Raul Cortez e Juca de
Oliveira), sócios do fugitivo, denunciam o caso à polícia. De acusadores
passam, no entanto, a réus, por obra, graça e desmando do tenente de
polícia (Anselmo Duarte), que dirige a investigação. Presos e
torturados, os Naves são obrigados a confessar o crime que não
cometeram.
O bandido da luz vermelha (1968) de Rogério Sganzerla.
Baseado livremente na vida do famoso criminoso João Acácio Pereira da
Costa. Jorge, um assaltante de casas de luxo em São Paulo, apelidado
pela imprensa sensacionalista de "Bandido da Luz Vermelha", desconcerta a
polícia com seu comportamento fora do comum. Além de usar uma lanterna
vermelha, ele possui as vítimas, conversa com elas e faz fugas ousadas
para depois gastar o dinheiro roubado de maneira extravagante. O mundo
de Jorge é povoado de tipos como o detetive Cabeção, a protistuta Janete
Jane e o político corrupto J. B. Silva. Com sua linguagem visual
inovadora, O Bandido da Luz Vermelha pode ser visto como o ponto de transição entre a estética do Cinema Novo e a ruptura do Cinema Marginal.
Dois Perdidos Numa Noite Suja (1970) de Braz Chediak
Tonho
e Paco vivem em um pardieiro e trabalham no mercado. Certa vez, Tonho
se desentende com outro carregador, que o humilha, do que se aproveita
Paco para ridicularizar o companheiro. Ao saber que Tonho tem um
revólver, Paco propõe um assalto. Ante a recusa de Tonho, Paco mente-lhe
sobre um acordo de conciliação que fizera com o carregador que havia
humilhado o primeiro. Diante disso, Tonho acaba concordando. Os dois
assaltam um casal, e na divisão do roubo Paco tenta enganar Tonho.
Cansado de humilhações, Tonho empunha sua arma contra Paco. Este não se
assusta, lembrando que falta munição. Tonho tira uma bala do bolso,
carrega a arma e obriga Paco a bancar uma mulher. O desenlace destas
vidas marginais será trágico.
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), de Hector Babenco
Pouco antes de morrer, um dos bandidos mais populares do Rio de Janeiro
na década de 60 revela a um jornalista um esquema de corrupção
envolvendo policiais que combatem o crime às margens da lei: o Esquadrão
da Morte. Nessa conjuntura surgem vários episódios e personagens que
marcaram uma época. O filme é baseado no livro homônimo de autoria de
José Louzeiro.
Barra Pesada (1977) de Reginaldo Faria.
Baseado no livro "Nas quebradas da vida" de Plínio Marcos. Marcado pela
violenta infância, jovem embrenha-se na vida do crime. Entre uma trapaça
e outra, ele se torna o alvo principal de uma caçada que envolve o
submundo do crime e a própria polícia.
A República dos assassinos (1979) de Miguel Faria Jr.
Baseado no Livro homônimo de Aguinaldo Silva. No Rio de Janeiro, na
década de 70, um grupo de policiais atua como esquadrão da morte. Este
grupo de elite foi criado pelo próprio governador do Estado com o apoio
do senador Gilberto Martins. O senador é dono de um jornal que dá enorme
cobertura às ações de Matheus, um dos chefes do grupo. Matheus tivera
um caso com Marlene Graça, atriz e cantora de cabaré que se sente
prejudicada pela má reputação do policial. Com dificuldades para
conseguir um papel num filme e desiludida com Matheus, que arranjara
outra garota, ela entra para uma seita evangélica. O esquadrão da morte
com suas execuções sumárias acaba por levantar forte suspeita de um
promotor público, que descobre o envolvimento do grupo com extorsão,
narcotráfico, roubo e outros crimes. Em 1970, os crimes do Esquadrão da
Morte pelo requinte de violência provocaram uma onda de reações por todo
o país. As fotos das vítimas, adornadas pela caveira, símbolo do grupo,
causaram uma incômoda indignação. Esta é a história de Mateus Romeiro, o
mais famoso dos policiais, que integrou o grupo dos Homens de Aço, uma
das facções em que se dividia o esquadrão.
Eu Matei Lúcio Flávio (1979) de Antônio Calmon
Jovem, classe média, Mariel Mariscot de Mattos, ganhou fama como
policial de atuação no submundo do crime. Seu primeiro trabalho como
guarda-vidas na Zona Sul do Rio de Janeiro, abriu-lhe as perspectivas
para entrar na Academia de Polícia, onde integrou um grupo de policiais
de elite, especializados no combate a bandidos de alta periculosidade.
Com as mesmas origens de Mariel, Lúcio Flávio Vilar Lírio, é um jovem em
busca de ascensão social. Opta pelo crime. Seu bando tornam-se os mais
procurados pela polícia. Lutando em campos opostos, Lúcio e Mariel
acabam se defrontando, numa representação individualizada de uma luta
global entre polícia e marginais.
Ato de Violência (1980) de Eduardo Escorel.
Baseado em fatos reais, a vida do famoso criminoso paulista Chico
Picadinho. Antônio tem bom comportamento, estudando, trabalhando e
freqüentando cultos religiosos. Consegue a liberdade condicional e
reencontra sua família e amigos em um almoço de boas-vindas. Porém a
situação de ex-presidiário o deixa sem emprego. Deixa a mulher,
envolve-se com prostitutas, além de fazer dívidas. Antônio encontra-se
um dia com seu amigo Manoel e pede para morar com ele. Este aceita por
dois dias, o que não acontece, Antônio fica durante algum tempo na casa
do amigo até discutirem. Um dia leva uma prostituta para casa. Durante o
ato sexual, Antônio comete novo assassinato, e foge.
Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco.
O ator Fernando Ramos da Silva, que seria ele mesmo morto pela polícia
em 1987, depois de um breve período de estrelato, dá vida ao drama do
menino de rua. Pixote foi abandonado por seus pais e rouba para viver
nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na
sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens
delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um
pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas
onze anos.
A Freira E A Tortura (1983) de Ozualdo Candeias
Baseado na peça O milagre da cela, de Jorge Andrade. Enquanto persegue
um marginal, o delegado, homem de princípios e bem casado, conhece uma
professora acusada de crimes políticos. Acaba por prendê-la. Descobre
que a professora é também freira e passa a torturá-la para conseguir as
informações que deseja. Os dois se apaixonam violentamente. O delegado
acaba sendo assassinado por bandidos numa emboscada. A freira comparece
ao enterro para dar o último adeus ao seu amado.
Memórias do Cárcere (1984) de Nelson Pereira dos Santos.
O roteiro é uma adaptação do livro homônimo de Graciliano Ramos. O filme
conta a fase em que Graciliano Ramos, o autor de Vidas Secas, esteve
preso durante o Estado Novo no Brasil. A história retrata a violenta
repressão política na Era Vargas pela ótica de Graciliano Ramos,
protagonizado por Carlos Vereza, que é encarcerado na ilha Grande, como
preso político. Incerto em relação ao futuro, relata seus dias em
clausura e a precariedade da condição de encarcerado. Participaram ainda
do elenco: Glória Pires, José Dumont, Nildo Parente, Wilson Grey,
Tonico Pereira, Jorge Cherques, Jofre Soares, Fabio Barreto e Marcos
Vinícius.
Anjos do Arrabalde (1986) de Carlos Reichenbach. O filme conta a
história e o cotidiano de três professoras na periferia de São Paulo.
Carmo abandona o magistério por pressão do marido machista; Dália
sustenta irmão viciado e é vítima de preconceito por causa de sua vida
sexual e pelo romance com um homem casado; Rosa está desiludida da
profissão. Há ainda a história da amiga Aninha, a manicure, e suas
tragédias. Todas convivem com a pobreza local, a violência e o ethos
policial de periferia.
Faca de dois gumes (1989) de Murilo Salles
Baseado em novela de Fernando Sabino. Advogado de família ilustre,
marido apaixonado, é traído por sua bela mulher, amante de seu sócio e
melhor amigo. Planeja, então, um crime perfeito, articulando
meticulosamente todas as peças de sua ação, mas sua atitude passional e
fatores imprevisíveis, envolvendo corrupção e o sequestro de seu filho,
acabam por levá-lo a se envolver numa série de acontecimentos, que
transformam sua vida numa faca de dois gumes, tudo se encaminhando para
um final dramático.
O Homem da Capa Preta (1986) de Sérgio Rezende
Cinebiografia do polêmico e reacionário político da Baixada Fluminense
dos anos 50 e 60, Tenório Cavalcanti, ex-deputado federal que com sua
metralhadora, apelidada de Lourdinha, desafiava a corrupção e os
poderosos que dominavam o município fluminense de Duque de Caxias. O
filme traça o panorama político do Rio de Janeiro dos anos 40 a 60.
Navalha na carne (1997) de Neville d'Almeida
Baseada na obra homônima de Plínio Marcos. A primeira versão
cinematográfica da peça de Plínio Marcos foi realizada em 1970, com
direção de Braz Chediak. O cafetão Vado entra de madrugada no quarto da
prostituta Neusa Suely em busca de dinheiro, que descobre ter
desaparecido. Para livrar-se das acusações de Vado, Neusa Suely alega
que o homossexual Veludo, seu vizinho, furtou o dinheiro. Os três
personagens começam então a viver uma pequena tragédia ambientada no
submundo carioca.
Os matadores (1997) de Beto Brant.
Em um bar na divisa Brasil-Paraguai, um homem está para ser eliminado.
Enquanto esperam o defunto encomendado, dois matadores, Toninho e
Alfredão revelam uma história em que é difícil encontrar culpados e
inocentes. Presente e passado se misturam em torno da morte de Múcio, o
pistoleiro mais competente da região, mostrando que matar ou morrer é
uma fronteira fácil de se atravessar. Um chefe, uma bela mulher, um
serviço a ser feito. O filme testa os limites da amizade, do medo e da
traição. Quem traiu?
Notícias de uma Guerra Particular (1999) de João Moreira Salles e Kátia Lund.
Notícias de um estado permanente de exceção no Rio e no Brasil, em que a
violência do crime e da polícia é moeda corrente. Documentário que
retrata a vida da comunidade do Morro Dona Marta, Botafogo, RJ. Mostra o
resultado da repressão ao tráfico de drogas no morro, apontando o campo
de batalha e os principais personagens nessa trama terrível e desigual:
os jovens traficantes (tendo como principal personagem o traficante
Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, morto em 2003, no complexo
penitenciário de Bangu a mando de Fernandinho Beiramar); a comunidade e
os policiais. Resultado dessa trama é a alta mortalidade de jovens nos
dois lados da batalha e a vida dos moradores sempre no fio da navalha de
tiroteios e das ambiguidades de papéis e de valores.
O documentário foi eleito um dos melhores filmes pela Revista de Cinema e
venceu a competição de documentário do festival, É Tudo Verdade.
Trata-se de um incisivo retrato da violência no Rio de Janeiro.
Flagrantes do cotidiano das favelas dominadas pelo tráfico de drogas
alternam-se e entrevistas com todos os envolvidos no conflito. A
violência disseminada na sociedade e a repessão das instituições da
segurança pública são apresentadas sem retoques, fazendo com que essa
guerra particular não apresente vencedores, apenas baixas cotidianas e
aviltantes.
Cronicamente Inviável (2000) de Sergio Bianchi
As relações entre frequentadores, proprietários e empregados de um
prestigiado restaurante de São Paulo são as pedras de toque para
descortinar uma ácida visão da crise brasileira. Entram em foco as mais
surpreendentes situações de aproximação e conflito entre diferentes
raças e classes sociais, de várias regiões do país, revelando, sem
qualquer concessão, a impossibilidade de uma cultura nacional homogênea.
Desfilam no filme um escritor que realiza um passeio pelo país,
buscando compreender os problemas de dominação e opressão social; um
garçom que se destaca por sua descendência européia, aspecto físico, boa
instrução e insubordinação; uma rica carioca preocupada em manter o
mínimo de humanidade na relação com as pessoas de classe mais baixa. A
gerente do restaurante, uma pessoa cativante, com um passado encoberto
pelas várias histórias que costuma contar para os amigos e os refinados
clientes do restaurante.
O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas (2000) de Paulo Caldas e Marcelo Luna.
O documentário retrata as trajetórias dissonantes de dois jovens criados
em Camaragibe, na periferia de Recife: um justiceiro por conta própria
preso por cerca de 70 assassinatos e o baterista da banda de rap Faces
do Subúrbio. O título em si já é curioso, mas, como se verá, o filme não
se esgota na mera curiosidade nem faz apologia do pitoresco. "Pequeno
Príncipe" não se refere ao livro de Antoine de Sain-Exupéry, aquele que
era sempre muito citado nos concursos de misses do Brasil. É o apelido,
codinome, ou nome de guerra de Helinho, Hélio José Muniz, "justiceiro"
de Camaragibe, no Grande Recife, uma das periferias mais pobres do País.
"Alma sebosa" é aquele indivíduo que não presta, que faz mal à
comunidade e portanto merece ser despachado desta para a melhor. Tudo
isso acontece nesses lugares onde a polícia não entra, o Estado não atua
e a sociedade procura (em vão) esquecer. Nessas paragens, "pequenos
príncipes" e "almas sebosas" foram feitos uns para os outros.
O Invasor (2001) de Beto Brant. Roteiro: Marçal Aquino, Beto
Brant e Renato Ciasca. Baseado em livro de Marçal Aquino. Produção:
Renato Ciasca e Bianca Villar. Estevão, Ivan e Gilberto são companheiros
desde os tempos de faculdade e sócios de uma construtora de sucesso há
mais de 15 anos. O relacionamento entre eles sempre foi muito bom, até
que um desentendimento na condução dos negócios faz com que eles entrem
em choque, com Estevão, sócio majoritário, ameaçando abandonar a
empresa. Acuados, Ivan e Gilberto decidem então contratar Anísio, um
matador de aluguel, para assassinar Estevão e, assim, poderem conduzir a
construtora do modo como bem entendem. Entretanto, Anísio tem seus
próprios planos de ascensão social e aos poucos invade cada vez mais as
vidas de Ivan e Gilberto
Bicho de sete cabeças (2001) de Laís Bodanzky. Roteiro: Luís Bolognesi. Produção: Maria Ionescu e Fabiano Gullane.
É baseado no livro auto-biográfico Cantos dos Malditos de Austregésilo
Carrano Bueno. Os pais de um jovem descobrem um cigarro de maconha em
seu casaco e são aconselhados a internar o filho numa instituição
psiquiátrica, onde terá que suportar as agruras de um sistema que
lentamente devora suas presas.
Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles Roteiro: Bráulio Mantovani, baseado em romance de Paulo Lins
Produção: Walter Salles.Embalada por uma montagem vertiginosa, a
história da evolução do tráfico em Cidade de Deus e das estreitas
ligações entre traficantes, moradores e policiais corruptos tornou-se um
dos maiores sucessos do cinema nacional. Buscapé é um jovem pobre,
negro e muito sensível, que cresce em um universo de muita violência.
Buscapé vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos
locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se
tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino por causa de
seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na
profissão. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o
dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita.
Ônibus 174 (2002) de José Padilha. Produção: José Padilha e Marcos Prado.
Uma investigação cuidadosa, baseada em imagens de arquivo, entrevistas e
documentos oficiais, sobre o seqüestro de um ônibus em plena zona sul
do Rio de Janeiro. O incidente, que aconteceu em 12 de junho de 2000,
foi filmado e transmitido ao vivo por quatro horas, paralisando o país.
No filme a história do seqüestro é contada paralelamente à história de
vida do seqüestrador, intercalando imagens da ocorrência policial feitas
pela televisão. É revelado como um típico menino de rua carioca
transforma-se em bandido e as duas narrativas dialogam, formando um
discurso que transcende a ambas e mostrando ao espectador porque o
Brasil é um país é tão violento.
Carandiru (2002) de Hector Babenco. Roteiro: Hector Babenco, Fernando Bonassi e Victor Navas.
Baseado em livro de Dráuzio Varela. Produção: Hector Babenco e Flávio R.
Tambellini. Baseado no livro "Estação Carandiru", de Drauzio Varella, o
filme descreve a trajetória de detentos do então maior presídio da
América Latina, hoje implodido. O ápice é o massacre de 1992, quando a
Polícia Militar, para conter uma rebelião, matou 111 detentos. A
história começa quando o médico resolve fazer um trabalho de prevenção à
AIDS na Casa de Detenção de São Paulo. Ali, o médico toma contato com o
que, aqui fora, temos até medo de imaginar: violência, superlotação,
instalações precárias, falta de assistência médica e jurídica, falta de
tudo. O Carandiru, com seus mais de sete mil detentos, merece sua fama
de “inferno na terra”. Porém, nosso personagem logo percebe que, mesmo
vivendo numa situação limite, os internos não representam figuras
demoníacas. Ao contrário, ele testemunha solidariedade, organização e,
acima de tudo, uma grande disposição de viver. Não é pouco e é o
suficiente para que ele, fascinado, resolva iniciar um trabalho
voluntário.
Garotas do ABC (2003) de Carlos Reichenbach
A primeira versão do argumento foi mostrada em Roterdã, Holanda, em
1987. No ABC de São Paulo, região de fábricas têxteis e metalúrgicas, um
grupo de operárias vive seu cotidiano de intenso trabalho, sonhos e
ilusões. Entre elas, destaca-se Aurélia, operária negra, bela e
atrevida, que adora homens fortes e musculosos. Ela namora Fábio, jovem
enturmado em um grupo neonazista, liderado pelo jovem advogado Salesiano
de Carvalho.
O Prisioneiro da Grade de Ferro (2003) de Paulo Sacramento.
Roteiro: Paulo Sacramento. Produção: Gustavo Steinberg. Um ano antes da
desativação da Casa de Detenção do Carandiru, um projeto faz com que os
detentos aprendam a utilizar câmeras de vídeo e documentem o cotidiano
do maior presídio da América Latina. O resultado é magistral porque
coloca os presos como narradores de sua própria história, cheia de dor,
sofrimento, amargura, inustiças mas também de esperanças. O documentário
também registra as condições absurdas que presidiam o cumprimento da
pena no complexo penal do mais poderoso estado do Brasil.
O homem do ano (2003) de José Henrique Fonseca. Roteiro: Rubem Fonseca, Patrícia Melo e José Henrique Fonseca.
Uma ingênua aposta entre amigos transforma Máiquel, um homem comum, em
um assassino e herói de toda uma cidade. Deixando-se levar pelos
acontecimentos, Máiquel torna-se respeitado por bandidos e pela polícia,
sendo também amado por duas mulheres. Até que comete seu primeiro erro e
é obrigado a tomar de volta o controle do seu destino.
Amarelo Manga (2003) de Cláudio Assis. Roteiro: Hilton
Lacerda.Produção: Marcello Maia e Paulo Sacramento. Guiados pela paixão,
os personagens de Amarelo manga vão penetrando num universo feito de
armadilhas e vinganças, de desejos irrealizáveis, da busca incessante da
felicidade. O universo aqui é o da vida-satélite e dos tipos que giram
em torno de órbitas próprias, colorindo a vida de um amarelo hepático e
pulsante. Não o amarelo do ouro, do brilho e das riquezas, mas o amarelo
do embaçamento do dia-a-dia e do envelhecimento das coisas postas. Um
amarelo-manga, farto.
Justiça - O Filme. (2004) de Maria Augusta Ramos. Roteiro: Maria
Augusta Ramos. Produção: Luís Vidal, Niek Koppen, Jan de Ruiter e Renée
Van der Grinten. Documentário mostra um Tribunal de Justiça no Rio de
Janeiro, acompanhando o cotidiano de alguns ersonagens. Há os que
trabalham ali diariamente (defensores públicos, juízes, promotores) e os
que estão de passagem (réus). câmera é utilizada como um instrumento
que enxerga o teatro ocial, as estruturas de poder — ou seja, aquilo
que, em geral, os é invisível. O desenho da sala, os corredores do
fórum, a disposição das pessoas, o discurso, os códigos, as posturas
todos os detalhes visuais e sonoros ganham relevância. O spaço, as
pessoas e sua organização são registrados de aneira sóbria. A câmera
está sempre posicionada em relação cena mas não se move dramaticamente,
não busca a falsa omoção. Sinal de respeito, de não-exploração. No
filme, não há entrevistas ou depoimentos, a câmera registra o que se
passa diante dela.
O Cárcere e a Rua (2004) de Liliana Sulzbach.
Cláudia,
presidiária mais antiga e respeitada da Penitenciária Madre Pelletier,
deve deixar o cárcere em breve. Assim como Betânia, que vai para o
regime semi-aberto, e ao contrário de Daniela, que recém chegou na
prisão e aguarda julgamento. Enquanto Daniela busca proteção na cadeia,
Cláudia e Betânia vão enfrentar as incertezas de quem volta pra rua.
Para O Cárcere e a Rua, a diretora visitou durante três anos a
Penitenciária Madre Pelletier, a maior instituição prisional
exclusivamente feminina de Porto Alegre, e chegou a entrevistar cerca de
100 detentas, até chegar às três protagonistas.
Cidade Baixa (2005) de Sérgio Machado.
É um triângulo amoroso entre uma prostituta e dois homens que fazem
transporte marítimo. Eles seguem para a Cidade Baixa de Salvador. Entre
as dificuldades de relacionamento, o filme mostra o cotidiano das
pessoas dessa região. Fala de pobreza, drogas, prostituição e violência.
Deco e Naldinho ganham a vida fazendo fretes e aplicando golpes a bordo
de um barco. Quando conhecem a stripper Karinna, os dois se apaixonam
por ela e iniciam uma vida a três. Ciúmes desgastam a relação, e os três
se separam, mas não conseguem ficar sozinhos. Eles se reaproximam e se
deparam com um caminho sem volta.
Quanto vale ou é por quilo? (2005) de Sérgio Bianchi
Baseado no conto "Pai Contra Mãe", de Machado de Assis. Uma analogia
entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo
marketing social, que forma uma solidariedade de fachada. No século
XVII um capitão-do-mato captura um escrava fugitiva, que está grávida.
Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a escrava aborta o
filho que espera. Nos dias atuais uma ONG implanta o projeto
Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que
trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram
superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada.
Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se
matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver.
Atos dos homens (2006) de Kiko Goifman
Um massacre ocorrido na Baixada Fluminense transformou um documentário
sobre sobreviventes de chacinas em um filme sobre a violência no Rio de
Janeiro. Em 31 de março de 2005, um mês antes do início das filmagens,
uma matança nas cidades de Nova Iguaçu e Queimados mudaria profundamente
o argumento do projeto. A realidade tão próxima fez com que o foco
fosse direcionado ao cotidiano dos moradores daquela região, mostrando a
profunda desigualdade social e a banalização da morte, que se
transforma num modo corriqueiro de resolução de conflitos. A premissa
detém-se no extermínio, nos matadores e no desejo de viver dos moradores
da região.
Anjos do Sol (2006) de Rudi Lagemann.
Maria (Fernanda Carvalho) é uma jovem de 12 anos, que mora no interior
do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a
um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas
virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um
garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue
fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao
chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho.
Zuzu Angel (2006) de Sérgio Rezende.
Zuzu Angel é uma estilista de sucesso que divulgou a moda brasileira por
todo o mundo. Nos anos 70 Zuzu também travou uma batalha contra a
ditadura militar, devido ao desaparecimento de seu filho, Stuart. Stuart
fazia parte do movimento estudantil da época, sendo contra a ditadura
vigente. Após ser preso, ele é torturado e assassinado por agentes do
Centro de Informações da Aeronáutica, sendo dado como desaparecido
político. É quando Zuzu decide denunciar os abusos cometidos pela
ditadura, chamando a atenção no Brasil e no exterior.
Estamira (2006) de Marcos Prado
Estamira é uma mulher de 63 anos que sofre de distúrbios mentais. Ela
vive e trabalha há 20 anos no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, um
local que recebe diariamente mais de 8 mil toneladas de lixo da cidade
do Rio de Janeiro. Com um discurso filosófico e poético, Estamira
analisa questões de interesse global.
Tropa de Elite (2007) de José Padilha
Tem como tema o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Um
capitão do BOPE quer deixar o posto e busca um substituto, ao mesmo
tempo em que 2 amigos se destacam por sua honestidade como policiais.
Dirigido por José Padilha (Ônibus 174) e com Wagner Moura e Caio
Junqueira no elenco. Foi objeto de grande repercussão antes mesmo
de seu lançamento, por ter sido o primeiro filme brasileiro a, meses
antes de chegar aos cinemas, vazar para o mercado pirata e a internet.
Ao criticar duramente os usuários de substâncias ilícitas,
atribuindo-lhes culpa pela expansão do tráfico de drogas e da violência,
o filme gerou grande debate na mídia brasileira. As práticas de tortura
por parte dos policiais também foram abordadas, gerando questionamentos
acerca do fato dos personagens estarem sendo considerados heróis por
suas atitudes frente aos bandidos.
Veja polêmica sobre o filme
"
Querô" (2007) de Carlos Cortez.
Querô (Maxwell Nascimento) não sabe quem é seu pai e Piedade (Maria
Luísa Mendonça), sua mãe prostituta, morreu quando o menino ainda era um
bebê. Criado no prostíbulo onde sua mãe morava, em Santos, o menino
cresce com a violenta realidade das ruas da cidade paulista. Preso por
cometer delitos, tem sua vida marcada pelos maus-tratos na Febem, que
marcam a vida na instituição, de onde foge, disposto a recomeçar a vida.
Os 12 trabalhos (2007) de Ricardo Elias
Heracles é um jovem negro, que vive na periferia de São Paulo e que
gosta de desenhar. Há 2 meses ele deixou a Febem e agora procura uma
ocupação. Por indicação de seu primo Jonas, Heracles passa a trabalhar
como motoboy. Em seu período de experiência ele precisa realizar 12
tarefas pela cidade de São Paulo. Para realizá-las Heracles precisa
lidar com o preconceito, a burocracia e sua própria falta de malícia no
novo serviço.
Batismo de sangue (2007) de Helvécio Ratton
São Paulo, fim dos anos 60. O convento dos frades dominicanos torna-se
uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil.
Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de
Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo
(Odilon Esteves) passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora
Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas). Eles logo
passam a ser vigiados pela polícia e posteriormente são presos, passando
por terríveis torturas.
Baixio das Bestas (2007) de Cláudio Assis
Auxiliadora (Mariah Teixeira) é uma jovem de 16 anos explorada por seu
avô, seu Heitor (Fernando Teixeira). Ele vê falta de autoridade em tudo à
sua volta, mas não pensa duas vezes antes de explorar a neta. Cícero
(Caio Blat) pertence a uma conhecida família local e está apaixonado por
Auxiliadora. Mas para tê-la ele precisará enfrentar o avô dela.
Meu Nome Não É Johnny (2008) de Mauro Lima.
O filme conta a história de um jovem da zona sul carioca que se torna o
rei do tráfico de drogas nos anos 90. João Guilherme Estrella é um
típico jovem de classe média da Zona Sul carioca. Adorado por seus pais e
amigos, viveu a vida intensamente, passou por todas as loucuras
permitidas e não permitidas, e nos anos 80 se aventurou no mundo do
tráfico e tornou-se um rei. Investigado pela polícia e preso, tem seu
nome e seu rosto exposto em jornais e revistas. Ao invés de festas, ele
passa freqüentar o banco dos réus, onde conta a sua história e tramas da
juventude.
Última Parada 174 (2008) de Bruno Barreto. Roteiro: Bráulio Mantovani.
Rio de Janeiro, 1983. Marisa (Cris Vianna) amamenta o pequeno
Alessandro (Marcello Melo Jr.), em sua casa na favela. Viciada em
drogas, assiste, impotente, seu filho ser retirado de suas mãos pelo
chefe do tráfico local, devido a uma dívida não paga. Dez anos depois
Sandro (Michel Gomes), filho único, vê sua mãe ser morta por dois
ladrões. Apesar de ficar sob os cuidados da tia, ele decide fugir e
passa a conviver com um grupo de garotos que dorme na igreja da
Candelária, onde tem acesso ao mundo das drogas. Apesar de não saber ler
ou escrever, Sandro sonha em ser um famoso compositor de rap. Para
tanto ele espera a ajuda de Walquíria (Anna Cotrim), que realiza um
trabalho voluntário junto a meninos de rua. Só que Sandro testemunha
mais uma tragédia, a chacina da Candelária, onde 8 meninos de rua foram
mortos pela polícia. Este evento aproxima Sandro e Alessandro, que
passam a ter um forte convívio.
Veja comentário sobre o filme
Juízo (2008) de Maria Augusta Ramos. Roteiro: Maria Augusta Ramos.
Juízo acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade
diante da lei. Meninas e meninos pobres entre o instante da prisão e o
do julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação de
jovens infratores é vedada por lei, eles são representados no filme por
jovens não-infratores que vivem em condições sociais similares. Todos os
demais personagens de Juízo - juízes, promotores, defensores, agentes
do DEGASE, familiares - são pessoas reais filmadas durante as audiências
na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto
Padre Severino, local de reclusão dos menores infratores.
Território e violência (2008), de Rute Imanashi Rodrigues e Patrícia S. Riviero.
Documentário que complementa a pesquisa "Indicadores de Proteção e Risco
para a instrumentação de Políticas Públicas em Favelas no Rio de
Janeiro", realizada no IPEA com apóio da FAPERJ no ano 2008. Neste
mostram-se os principais locais onde estão concentradas as moradias das
vítimas de homicídio na cidade assim como as características desses
locais do ponto de vista da estrutura urbana, social, econômica e
ambiental. Através de depoimentos com especialistas em urbanismo, em
segurança pública e com moradores são analisadas as possíveis causas que
fazem com que as favelas concentrem a maior parte das vítimas de
homicídio assim como também as ações mais letais e violentas da polícia.
As entrevistas vão indicando também quais têm sido as políticas que
contribuíram para chegar a esta situação e quais políticas poderiam
mudar o quadro de segregação social urbana através da violência.
Vozes (2009), de Anna Costa e Silva, Fábio Canetti e Luiza Santoloni
Uma reflexão poética sobre a mente humana e sua loucura , tendo como base depoimentos de pessoas com transtornos psíquicos.
Assista
O contador de histórias (2009) de Luiz Villaça.
Baseado em fatos reais. Belo Horizonte, fim da década de 70. Aos 6 anos,
Roberto Carlos Ramos já demonstra enorme talento para contar histórias.
Caçula de dez irmãos e morador de favela, é o escolhido por sua mãe
para ir viver numa nova instituição anunciada pelo governo como uma
oportunidade para aqueles que viviam na pobreza.
Cidadão Boilesen (2009) de Chaim Litewski
Um capítulo sempre subterrâneo dos anos de chumbo no Brasil, o
financiamento da repressão violenta à luta armada por grandes
empresários, ganha contornos mais precisos neste perfil daquele que foi
considerado o mais notório deles. As ligações de Henning Albert Boilesen
(1916-1971), presidente do grupo Ultra, com a ditadura militar, sua
participação na criação da temível Oban – Operação Bandeirantes – e
acusações de que assistiria voluntariamente a sessões de tortura emergem
de diversos depoimentos de personagens daquela época.
Entre e luz e a sombra (2009) de Luciana Burlamaqui
O documentário investiga a violência e a natureza humana a partir da
história de uma atriz que dedica sua vida para humanizar o sistema
carcerário, da dupla de rap 509-E formada por Dexter e Afro-X dentro do
Carandiru e de um juiz que acredita em um meio de ressocialização mais
digno para os encarcerados. Durante sete anos, a partir do ano 2000, o
documentário acompanha a vida destes personagens.
Veja trailer e análise do documentário:
http://www.cinema.com.br/filmes/entre-a-luz-e-a-sombra.html
A casa dos mortos (2009) de Débora Diniz.
Um olhar sobre a realidade dos manicômios judiciários. O documentário
tem como Bubu como personagem guia que mostra como estas instituições
condenam à prisão perpétua a loucura. O filme relata a história de
Jaime, Antônio e Almeirindo, considerados perigosos ao convívio social,
seu castigo supremo será o suicídio, o ciclo de internações consecutivas
ou a sobrevivência em condições inaceitáveis na casa do mortos (ou o
cemitério dos vivos, na lírica de Lima Barrreto). O documentário pode
ser visto no seguinte link:
http://www.acasadosmortos.org.br/
Leite e ferro (2010) de Claudia Priscilla
Maternidade no inferno. O documentário "Leite e Ferro" revela a vida
numa cadeia de São Paulo destinada às mulheres que estão amamentando;
depois de quatro meses de convívio, as presas são separadas dos filhos.
Veja matéria sobre o documéntário
Tropa de Elite 2. Agora o inimigo é outro (2010) de José Padilha
Três anos após o sucesso do primeiro, Tropa de Elite 2 aparece como um
projeto cinematográfico de grande repercussão, executado pelo cineasta
José Padilha, também envolvido com a direção e produção de documentários
e longas-metragens, tais como Ônibus 174 (2002), Estamira (2005), entre
outros.
Padilha retorna em 2010 apontando para locais diferentes. Como diz o
título, o inimigo agora é outro. Na trama, Wagner Moura, novamente como
Nascimento, mas não mais como capitão e, sim, coronel, troca a farda
pelo terno e começa a lidar com a criminalidade carioca do
ponto-de-vista do administrador. O truculento capitão Nascimento do
primeiro filme agora se vê em situações em que ética e valores pessoais
são o principal ponto de tensão. Ainda assim, não deixamos de ver uma ou
outra seqüência em que é possível recordar as cenas de violência
explícita protagonizadas por Moura, que, para o bem ou para o mal,
constituem um dos motivos responsáveis pela grande rentabilidade do
longa. O realismo de Padilha parece conquistar o público mais pela
brutalidade dos personagens do que pelo novo dado somado à história: a
noção de uma justiça igualitária representada pelo personagem do
defensor dos direitos humanos.
Ao fim, aquilo que era conflito se transforma em reabilitação para o
protagonista. Agora imbuído de uma faceta moralmente elevada, o coronel
Nascimento passa a utilizar como munição não a artilharia pesada do
primeiro filme, mas sua própria voz para denunciar as faces mais
obscuras da corrupção. O Estado que deveria prover o bem-estar e
garantir os direitos de cada cidadão encontra-se falido e a mercê não
apenas do tráfico, mas de milícias e de um “sistema” corrupto.
Não é possível saber até que ponto o filme reflete a realidade, mas
claramente baseia-se em situações reais. No livro Elite da Tropa, de
2006, escrito pelos policiais André Batista e Rodrigo Pimentel e pelo
antropólogo Luiz Eduardo Soares, é possível identificar alguns dos
personagens e das situações apresentadas ao longo da película.
Em suma, trata-se da tentativa de representar uma realidade cuja
complexidade não pode ser esgotada em 116 minutos. Entretanto, não deixa
de encontrar validade na medida em que propõe o debate sobre a questão
da segurança pública, tão pouco e superficialmente discutida até então.
Cinco vezes favela. Agora por nós mesmos (2010) de
Manaíra Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Luciana Bezerra.
Funk carioca, arroz com feijão, pipa e, claro, tráfico e
violência aparecem neste projeto capitaneado por Cacá Diegues e Renata
Almeida Magalhães. O filme-documentário reúne curtas-metragens
realizados por jovens cineastas originários de comunidades do Rio de
Janeiro. Os diretores retratam sua visão em cinco segmentos sobre a vida
das pessoas que moram nas favelas.
Veja trailer no YouTube
Salve Geral (2009) de Sérgio Rezende. Produção: Joaquim Vaz de Carvalho. Roteiro: Sergio Rezende e Patrícia Andrade.
“Dá um salve geral!”. Esse foi o código utilizado pelo Primeiro Comando
da Capital (PCC) para dar início à uma violenta onda de ataques que
assolou o estado de São Paulo no mês de maio de 2006. Os ataques tinham
como alvo delegacias de polícia, viaturas e bases da polícia militar e
da guarda civil metropolitana. Foi uma reação contra a transferência de
mais de 700 presos ligados ao PCC, entre eles alguns líderes, para
presídios de segurança máxima. Esse é o pano de fundo onde se
desenvolvem as histórias nesse filme do diretor Sérgio Rezende.
De uma realidade quase documentária, ao retratar a onda de ataques, o
filme aborda a capacidade de organização e o poder de fogo do PCC. No
filme, Andréa Beltrão interpreta Lúcia, uma professora de piano viúva
cujo filho, Rafael, foi preso por assassinato. Na cadeia, Rafael se vê
cooptado a trabalhar em prol do “partido”, respeitando a hierarquia e as
regras impostas pelos líderes do PCC, ao mesmo tempo em que Lúcia busca
uma solução pra libertar o filho preso.
fonte:
http://www.observatoriodeseguranca.org/dados/visao