NEGRIARA
Sou como a natureza: forte como um furacão, suave como uma brisa.
Praticamente bipolar... ; Sou como uma Rosa: sensível, cheirosa, preciso
de cuidados, mas posso arrancar sangue.
É muito estranho quando me lembro que fui embora achando com toda
certeza do mundo que conseguiríamos fugir pra sempre. Naquele momento eu
não estava pensando em mais nada,somente em conseguir viver em paz. Nem
eu, nem o meu marido e nem as crianças estávamos mais aguentando viver
daquele jeito. Quando saímos do sitio, ficamos de cidade em cidade
rodando tentando fazer contato com alguém do Rio de Janeiro, para saber
se a policia já sabia da existência do sítio. Tivemos algumas
informações truncadas e sem muitos detalhes. Com isso decidimos voltar
ao sitio, pegar a nossa cadelinha pequena, deixar as outras duas que
eram grandes com um caseiro, e despachar a nossa mudança. Nessa hora
tivemos que acionar duas pessoas que simplesmente são como meus anjos da
guarda. Sabe aquelas pessoas que ficam longe, mas você sabe que pode
contar SEMPRE, sem pré requisitos.
"A minha tia Jussara que mora em São
Paulo, que além de confiança extrema, não estaria no RJ, na mira da
policia e a minha prima/irmã Bete que mora no Rio de Janeiro, mas em
Araruama, por isso também não estava sendo monitorada pela policia.
Porra, as duas se levantaram da cama no nosso primeiro sinal de pedido
de ajuda. Chegaram lá em menos de 5 horas pra nós ajudar a encaixotar
tudo."
Nessas alturas eu e ele não podíamos
contar mais com ninguém do da minha família. Os policiais estavam em
cima, tentando descobrir nosso paradeiro. Até em festas eles iam,
disfarçados de garçons, flanelinha etc . Vocês
sabem oque duas pessoas se levantarem de cama pra ajudar outra sem
pestanejar. Foram elas. Tinha que ser muito rápido tudo. Pior que estava
chovendo e o carro estava derrapando na subida do sítio. Sabe a lei de
Murphy... Foi uma correria e o carro escorregando na lama, o caminhão
que arrumamos não subia também. Aí botamos as coisas em cima do teto do
carro, compramos um guia de estradas 4 rodas, pegamos a cachorra e as
crianças e partimos pra Maceió. Fomos pela Fernão Dias que era
mais próxima de onde estávamos. Pior de tudo era esconder a Pinga quando
parávamos pra dormir. (kkkkkkkk) Em um hotel em Santa Rita de Cassia,
ainda em MG, passamos maior vergonha. Alias o Saulo passou porque eu vi
de longe e já dei meia volta pra não ficar de cara grande.
A gente tinha que entrar no hotel com a
cachorra escondida, porque lá não era permitido. Aí o Saulo teve a
ideia de colocar ela dentro de uma mala (kkkkkkkkk). Nisso que ele esta
indo na direção do saguão do hotel o funcionaio veio pra ajudar. Dali eu
já diminui o passo(kkkkkkkkkkkk). Aí o meu marido falou que não
precisava pra se livrar do cara, mas ele insistiu. Quando ele botou a
mão no carrinho e deu dois passos, a Pinga(Cachorra) conseguiu, sabe lá
Deus como, abrir o zíper da mala e botou a cabeça pra fora com a cara de
mais alegre do mundo. (kkkkkkkkkkkkk) Eu vi de longe, parei e fiquei de
lá rindo muito.
Aí o homem olhou indignado e falou: Senhor não é permitido animais aqui.
O Saulo olhou pra ela, botou a mão na cintura e falou: Poxa Pinga! Você estragou tudo! Estávamos quase conseguindo! (kkkkkkkkkkkkk)
Todo sem graça, deu meia volta pra ir embora. Aquilo fez a gente ir dando gargalhada até Maceió.
Foi
uma viagem tranquila. Parávamos só pra almoçar e depois por volta de 20
horas pra dormir. Assim fomos de uma vez só. As crianças até que foram
bem legais, foram pacientes, porém foram brigando pra segurar a cachorra
até lá. Eu tinha que ficar com um relógio marcando 15 minutos pra cada
um. Porra tinha hora que dava vontade de parar o carro e enfiar a
porrada em geral. Nem a coitada da Pinga estava mais aguentando aquele
estica e puxa.
Muitas horas eles
dormiam e ficava todo mundo em silencio no carro. Sabe quando eu acho
que cada um ficava fazendo uma reflexão do que estava acontecendo.
Eu
estava firme, certa que daria tudo certo, afinal fui eu que preparei
tudo em Maceió, pra nossa partida. Mas tinha algo que não saia do meu
coração. Eu olhava pro Saulo e as vezes me batia aquela depressão, como
se eu não reconhecesse mais ele, sei lá, uma coisa estranha. Tinha horas
que tocava musicas no carro, que me faziam lembrar de toda aquela briga
que não tinha sido esclarecida e eu olhava ele cantando, e parecia que
tinha um diabinho o tempo todo martelando na minha mente aquela historia
toda.Ainda em Pouso Alegre, paramos pra tirar foto pro novos documentos e discutirmos qual seriam os novos nomes.
O fato mais inusitado, além, de estar sentados num bar escolhendo nosso nome novo foi a minha filha que chorou por horas porque queria porque queria que o nome dela mudasse pra Fernanda Vasconcellos. E eu explicando que não podia, que ela seria Dalila mesmo, e ela chorando e falando: Eu quero que meu nome seja Fernanda Vasconcellos!Imaginem a cena... A gente ali a mesa do bar com um papel fazendo nossa arvore genealogica falsa. Por isso que eu sempre falo que meus filhos tem uma indole muito boa mesmo, por que com experiencias como essa na vida...
Dali seguimos viagem naquele clima de cada quilometro mais longe, mais seguro estavamos. Foi cansativa a viagem, porém tranquila. Como levamos um ipod, tinha muita musica pra cantar na viagem, mas uma que eu cantava e tentava a cada centímetro percorrido, me desligar de tudo de ruim que tinha acontecido. Essa aqui: Sonda-me, usa-me Senhor - Aline Barros
Eu só buscava força pra esquecer tudo que o meu marido tinha me feito.
Buscava força pra recomeçar do zero. Eu estava muito triste pela
minha família que eu tinha certeza que não os veria mais. Naquele
momento eu estava tão cheia de esperança, que não existia lugar pra mais
nenhum sentimento. Eu cantei muito na viagem e fui lembrado de tudo que
tinha passado na nossa vida até aquele momento. E voltando a ter um
contato com Deus nos meus pensamentos, pedindo muito a ele que
protegesse a gente e nos ajudasse a conseguir. No fundo, contudo que
aconteceu, acho que Deus esteve por perto, posteriormente, evitando um
tragedia. Mas isso eu vou contar mais pra frente...
A nossa mudança tambem estava indo em direção a Maceió e tinhamos que correr pra chegar lá junto com o caminhão que mandamos.
Minha mudança já rodou esse mundo. Quando saí do Rio de Janeiro, arrumei um deposito em Taubaté, São Paulo, deixei lá por 2 meses pra despistar a policia. Depois mandei pro sítio em Minas Gerais e agora estava enviando pra Maceió, Alagoas.
Foi muita ingenuidade nossa achar que conseguiríamos. Mas enfim...
Sabe o que é ir um silencio no carro, um medo de encontrar a Policia Rodoviária Federal. A gente só respirou aliviado depois que entregamos a caixa no tal posto de gasolina.
Nossa como a estrada parecia não tinha fim. Na Bahia, aqueles eucaliptos que não tinha mais fim. Teve um hotel popular que o meu marido botou o pacote com nossos 100 mil em baixo do travesseiro, com medo de ser assaltado. Na verdade aquele dia eu dormi com um olho aberto e outro fechado. De manha rapamos fora rapidinho por medo.
Seguimos bem a viagem até chegar em Aracaju. Nos perdemos lá e fomos parar num lugar que o acesso era uma ponte, cuja policia ficava bem no meio fazendo Blits. Foi um terror. Meu coração nem batia direito. Na verdade hoje vejo que era um medo desnecessário, mas na hora nosso sotaque chamava muita atenção e despertava a curiosidade das pessoas em saber porque estávamos deixando o Rio de Janeiro.
Foi engraçado que quando despachamos a mudança, meu marido deu um dinheiro a mais pro homem do caminhão tratar as coisas com amor. Pois é... O violão das crianças chegou lá partido em 3 pedaços...
Quando chegamos em Maceió, foi bom porque a policia civil estava em greve e isso nos passava uma certa tranquilidade. Nosso medo ali não era com bandidos e sim com a policia. Eu estranhei muito que em TODAS as casas de Maceió tinha cercas elétricas. Eu não estava acostumada com isso. Eu até na época que comprei a casa perguntei pro meu amigo taxista Antonio, porque era assim. Pensei: Aí aí... Essas cercas não estão aí atoa...
Realmente lá acorriam muitos assaltos a residencias e a comercio. Muito mesmo!
Depois que arrumamos tudo, partimos pra outra casa que ficava em Maragogi. Aquela que eu falei, que era mais humilde, só que no paraíso. Lembro que quando chegamos lá, atravessamos a rua e estávamos numa praia praticamente deserta. Caminhamos pela praia, eu, o Saulo, as crianças e a cachorra. Me lembro que ele estava muito emocionado e ficou falando o tempo todo que parecia um sonho. O céu com muitas estrelas, aquela calmaria, um paraíso mesmo.
Naquele momento estávamos com meio caminho andado. Já tínhamos uma casa em Maceió, uma casa de vereio, um carro (Astra 1999) velho, porém, confortável, nossa casa estava mobiliada, só faltava mesmo abrir a nossa loja, pois minha mãe quando arrumou minha mudança, desmontou minha loja de essências e material pra artesanato que tinha na Rocinha e mandou junto.
Passamos uns dias lá e depois retornamos pra Maceió pra então dar continuidade a nossa vida. Quando chegamos lá começamos a procurar um loja pra alugar. Rodamos o Jacintinho todo e não achamos. Lá parecia até a Rocinha, lojinhas pra tudo que era lado, barracas de tudo que era coisa, muita gente pra lá e pra cá, bairro popular mesmo.
Aí por sorte de Deus achamos uma loja próxima a nossa casa. Nós alugamos e sozinhos arrumamos a loja toda.
Nossa lojinha estava bem arrumadinha, a gente se revesava lá e assim estava tudo indo bem.
Se existe uma coisa que arregaça nossa casa é criança. Não tinha como nos mantermos em discressão, pois eles queriam brincar, precisavam se relacionar com outras crianças. Ai resolvemos comprar um Mini Bugre pra eles. Eu até falei pro Saulo que se a gente não comprasse naquele momento, nunca mais a gente poderia e também depois que eles crescessem não teria mais valor. Pra falar a verdade a minha infância inteira passei pintando a porra dos gibis e mandando pra concorrer a um mini bugre. Logico fiquei só no sonho mesmo... Nunca ganhei nem um certificado por participar dos concursos. Sacanagem isso gente! Sempre quis um... Tadinha de mim.
Foi uma festa quando o reboque chegou. Eles passaram o dia na rua andando e assim aglomerou logo de crianças e rapidinhos eles estavam já enturmados como se fossem nascidos e criados ali.
Nessa eu incentivei o Saulo a operar a vista também. Ele tinha um problema lá que fazia com que ele não enxergasse nada, se não estivesse de óculos ou lente. Ele então tomou coragem e fez. Coitado sentiu muita dor nos olhos e eu de "enfermeira" pigando um colírio que ele dizia que ardia MUITO. Mas a recuperação foi boa .
Sentir isso me reportava ao inferno, automaticamente. Ele agia com um jeito que parecia que tinha o proposito de me enlouquecer de verdade. Hora ele parecia me amar, parecia estar feliz e hora ele era frio, sem amor. Toda a sensibilidade que eu havia ficado na Rocinha estava voltando. Mas dessa vez eu estava sozinha mesmo, não tinha quem me salvasse. As vezes eu me apegava à ideia que ele estava mais um vez passando por um momento difícil, de mudanças, de medo, de duvidas, que pra ele como homem daquela familia também era difícil e logo eu compreendia ele. Ele teve que fazer contato com uma pessoa do morro por causa dos documentos, alias, essa pessoa sabia exatamente onde estávamos, e esse repassava as noticias sobre nossa família do Rio de Janeiro pra gente.
Ele começou a viajar, hora pra resolver questões de documentos e hora pra fazer compras pra loja. Cada vez que ele ia pro aeroporto meu coração nem batia direito de tanto medo. Eu não ficava tranquila enquanto ele não voltava. Ele falou que tínhamos que investir nosso ultimo dinheiro em mercadorias pra que não gastar com besteira. E eu concordei com isso. Assim ele viajou umas 4 vezes. Mas em meio essas viagem eu estava tão insegura, tão sensível como mulher, que eu comecei a entrar numa depressão e no fundo eu estava sentindo que ele estava mesmo voltando a incorporar o Robinho Pinga, desatento, impaciente etc. Ele foi muito cruel comigo naquela época. Eu me levantava de madrugada pra chorar por causa do meu pai, porque sabia que ele morreria e eu não poderia vê-lo nunca mais. Ele se quer se mexia na cama pra me acolher. Agia uma frieza sem tamanho. Eu sempre ali como um cão fiel, querendo ele o tempo todo e ele chegou ao ponto de me falar que se incomodava com o meu assedio, que ele não gostava que eu ficasse querendo ele. GENTE! Pelo amor de Deus isso não é pra deixar qualquer um LOUCO. Ele falava isso, e horas depois transava loucamente comigo. Depois passava dias sem nem olhar pra minha cara com muita frieza. Cada vez que ele sumia pra ir a lan house eu entrava num estado de depressão terrível. Meu orkut, na época era controlado pelo meu sobrinho, mas muita gente pensava que eu anda mexia nele. Eu olhava tudo na internet como um anonimo qualquer, não podia de jeito nenhum ter qualquer ligação comigo ou com onde estávamos. Meu filho chorava olhado os orkuts dos amigos, sem poder fazer qualquer contato. Ele com essa coisa de ficar as escondidas fazendo contato com o morro, desencadeou uma revolta nacional lá em casa. Era injusto a gente ali, totalmente incomunicável e ele mesmo que era o maior interessado de papinho gostoso pelo MSN e orkut.
Até que um dia no meio de uma discussão eu botei ele na parede pra ele tirar de vez aquela mágoa do meu coração, pra ele me falar se ele tinha me traído mesmo. E foi aí que ele me destruiu como mulher numa só palavra. Sim... Eu te trai!
Imaginem, eu fiquei do lado desse homem quando TODOS viraram as costas, enfrentei bandido, repórter, policia, abandonei o lugar que eu nasci e fui criada, enfrentei medo, solidão, inveja, cobiça, tristeza e me mantive ali num único proposito, proteger ele. Coloquei meus filhos em risco, destruí mais a infância das crianças, cometi crimes, estava sendo perseguida pela policia que me enxergava como uma debochada e esse homem me fala com a maior naturalidade assim mesmo: Eu quero que vocês voltem pro Rio.
Porra foi como ganhar um tiro na cara de fogo amigo... Eu aos prantos perguntando porque? Porque? E ele só me falava assim: Acabou o amor.
Foi um dia terrível pra mim. Eu cheguei no meu limite, no famoso fundo do poço.
Ele com aquela alternância de comportamento, me trouxe do banheiro e quis namorar comigo. GENTE por favor, me digam se eu que sou a louca dessa historia. Ele quase me matou de tristeza e minutos depois fez amor comigo. Aquilo parecia um plano diabólico pra me destruir, me enlouquecer ou coisa parecida. Ele no meio daquela crise, simplesmente fez uma tatuagem com meu nome no braço. Eu não entendia como ele podia ser tão confuso nos pensamentos dele e aquilo me deixava mais pirada.
Nessa época, em um dos dias de crise do Saulo, ele me levou a praia pra mais uma vez me falar que não me amava mais. E quando voltamos pra casa, infelizmente a cachorra do meu filho ficou pro lado de fora do portão. Foi outra perda irreparável. Perdemos a luna... Até hoje eu não aceito isso. Nós botamos fotos, telefone, as pessoas ligavam falado que tinham achado, as crianças festejavam, mas na hora não era ela. Era uma tristeza sem fim quando voltávamos pra casa sem ela. Tadinho do Celso, chorava muito quando iamos, muitas vezes dentro de favelas e chagava lá era trote, ou não era ela que estava la.
Eu fiquei alguns dias totalmente doente. Não conseguia me levantar pra nada, fui parar em hospital etc.
Ele começou a cuidar de mim, me dava comida na boca e tudo e aos poucos foi diminuindo a intensidade da dor. Ele me levou num show do Sorriso Maroto, que aconteceu lá. Foi bom pra dar uma injeção de animo. Mas olha por incrível que pareça, eles chegaram lá com uma musica que parecia que tinha sido feita pra mim.
Choro toda vez
Que entro em nosso quarto toda vez
Que olho no espelho toda vez
Que vejo o seu retrato
Eu não tô legal
Não vai ser fácil de recuperar
A vontade de viver
Tô sem astral
por falta de você
Pior que nada que eu faça
Vai mudar sua decisão, de separação
Eu reconheço os seus motivos
Ta coberta de razão
Pra você, caso de traição não tem perdão
Sei que é tarde pra me arrepender
Inconsequente, fraco
Eu traí você
Sabemos bem quem vai sofrer
Hoje só Deus sabe a minha dor
Eu tive que perder pra dar valor
Não serei o mesmo sem o teu amor!
A nossa mudança tambem estava indo em direção a Maceió e tinhamos que correr pra chegar lá junto com o caminhão que mandamos.
Minha mudança já rodou esse mundo. Quando saí do Rio de Janeiro, arrumei um deposito em Taubaté, São Paulo, deixei lá por 2 meses pra despistar a policia. Depois mandei pro sítio em Minas Gerais e agora estava enviando pra Maceió, Alagoas.
Foi muita ingenuidade nossa achar que conseguiríamos. Mas enfim...
Foi uma viagem tranquila com algumas curiosidades. Uma delas foi quando nós paramos num posto de gasolina e fomos a lanchonete. Logico a gente super agradável com todo mundo pra parecer super gente boa. Não tinha quem não olhava pra gente por causa do sotaque de carioca. Um homem se aproximou e pedia se a gente poderia levar uma encomenda até a próxima cidade e entregar até um posto de gasolina.Puta que pariu! A gente no desespero de disfarçar e tentar passar despercebido, fazíamos tudo pra agradar todo mundo. Aquela caixa conseguiu tirar a nossa paz, porque depois que saímos dali, bateu um medo daquilo ser droga (kkkkkkkkkkkk). Seria o cúmulo da falta de sorte a policia parar a gente e achar uma caixa cheia de drogas né...
Sabe o que é ir um silencio no carro, um medo de encontrar a Policia Rodoviária Federal. A gente só respirou aliviado depois que entregamos a caixa no tal posto de gasolina.
Nossa como a estrada parecia não tinha fim. Na Bahia, aqueles eucaliptos que não tinha mais fim. Teve um hotel popular que o meu marido botou o pacote com nossos 100 mil em baixo do travesseiro, com medo de ser assaltado. Na verdade aquele dia eu dormi com um olho aberto e outro fechado. De manha rapamos fora rapidinho por medo.
Seguimos bem a viagem até chegar em Aracaju. Nos perdemos lá e fomos parar num lugar que o acesso era uma ponte, cuja policia ficava bem no meio fazendo Blits. Foi um terror. Meu coração nem batia direito. Na verdade hoje vejo que era um medo desnecessário, mas na hora nosso sotaque chamava muita atenção e despertava a curiosidade das pessoas em saber porque estávamos deixando o Rio de Janeiro.
Nossa quando nós vimos a blits montada na nossa frente o Saulo abriu todos a janelas do carro deu grito pras crianças levantarem rápido. Sabe aquela família de comercial de manteiga (kkkkk), até a cachorra ficou com a língua pa fora fazendo gracinha pros policiais. Pior que nós erramos o caminho e tivemos que passar por eles 2 vezes. Mas deu tudo certo, passamos sem grades problemas.Quando chegamos a Maceió, senti um alivio imediato por chegarmos bem, e por estar em casa. Nessas alturas, depois de tantas indas e vindas a Alagoas, eu já me sentia realmente em casa. Quando chegamos lá, o caminhão tinha acabado de chegar também. As crianças entraram a casa numa alegria, foi muito bom. Parecia que tínhamos voltado lá em 2005, quando tínhamos nos mudado pra Tijuca. Lá não conseguimos morar em paz nem 24 horas. Dessa vez parecia que daria certo.
Foi engraçado que quando despachamos a mudança, meu marido deu um dinheiro a mais pro homem do caminhão tratar as coisas com amor. Pois é... O violão das crianças chegou lá partido em 3 pedaços...
Quando chegamos em Maceió, foi bom porque a policia civil estava em greve e isso nos passava uma certa tranquilidade. Nosso medo ali não era com bandidos e sim com a policia. Eu estranhei muito que em TODAS as casas de Maceió tinha cercas elétricas. Eu não estava acostumada com isso. Eu até na época que comprei a casa perguntei pro meu amigo taxista Antonio, porque era assim. Pensei: Aí aí... Essas cercas não estão aí atoa...
Realmente lá acorriam muitos assaltos a residencias e a comercio. Muito mesmo!
Depois que arrumamos tudo, partimos pra outra casa que ficava em Maragogi. Aquela que eu falei, que era mais humilde, só que no paraíso. Lembro que quando chegamos lá, atravessamos a rua e estávamos numa praia praticamente deserta. Caminhamos pela praia, eu, o Saulo, as crianças e a cachorra. Me lembro que ele estava muito emocionado e ficou falando o tempo todo que parecia um sonho. O céu com muitas estrelas, aquela calmaria, um paraíso mesmo.
Naquele momento estávamos com meio caminho andado. Já tínhamos uma casa em Maceió, uma casa de vereio, um carro (Astra 1999) velho, porém, confortável, nossa casa estava mobiliada, só faltava mesmo abrir a nossa loja, pois minha mãe quando arrumou minha mudança, desmontou minha loja de essências e material pra artesanato que tinha na Rocinha e mandou junto.
Eu lembro que na ultima vez que tinha estado em Maceió, ainda sozinha, deixei 7.000 reais no armário. Na época pensei: Ah sobrou esse dinheiro da compra da casa, vou levar pro Rio de Janeiro pra que...
Nossa, foi uma emoção achar aquele dinheiro mofado no guarda roupa. Fizemos varias coisas na casa com essa graninha.
Passamos uns dias lá e depois retornamos pra Maceió pra então dar continuidade a nossa vida. Quando chegamos lá começamos a procurar um loja pra alugar. Rodamos o Jacintinho todo e não achamos. Lá parecia até a Rocinha, lojinhas pra tudo que era lado, barracas de tudo que era coisa, muita gente pra lá e pra cá, bairro popular mesmo.
Aí por sorte de Deus achamos uma loja próxima a nossa casa. Nós alugamos e sozinhos arrumamos a loja toda.
Todas ali estavam vendo que a gente era uma família normal, que trabalhava, cuidava dos filhos e tal. A unica coisa que ainda faltava era as crianças numa escola. Tadinha da minha filha... Ela amava ir pra escola e foi arrancada duas vezes em menos de 4 meses. A bichinha não tinha documentos e eu não podia usar o verdadeiro. Esse, aliás, foi escondido e esquecido. Ela pegava as paginas amarelas e ficava marcando tudo que era curso pra eu matricular ela. Até curso de japonês ela estava aceitando.
Nossa lojinha estava bem arrumadinha, a gente se revesava lá e assim estava tudo indo bem.
Se existe uma coisa que arregaça nossa casa é criança. Não tinha como nos mantermos em discressão, pois eles queriam brincar, precisavam se relacionar com outras crianças. Ai resolvemos comprar um Mini Bugre pra eles. Eu até falei pro Saulo que se a gente não comprasse naquele momento, nunca mais a gente poderia e também depois que eles crescessem não teria mais valor. Pra falar a verdade a minha infância inteira passei pintando a porra dos gibis e mandando pra concorrer a um mini bugre. Logico fiquei só no sonho mesmo... Nunca ganhei nem um certificado por participar dos concursos. Sacanagem isso gente! Sempre quis um... Tadinha de mim.
Foi uma festa quando o reboque chegou. Eles passaram o dia na rua andando e assim aglomerou logo de crianças e rapidinhos eles estavam já enturmados como se fossem nascidos e criados ali.
Nessa eu incentivei o Saulo a operar a vista também. Ele tinha um problema lá que fazia com que ele não enxergasse nada, se não estivesse de óculos ou lente. Ele então tomou coragem e fez. Coitado sentiu muita dor nos olhos e eu de "enfermeira" pigando um colírio que ele dizia que ardia MUITO. Mas a recuperação foi boa .
Nesse momento estavam felizes, tudo parecia estar se encaminhando. Mas o inimigo estava pronto pra atacar e destruir tudo e ele sabia bem por onde começar a trabalhar.Derrepente o Saulo começou a mudar e me parecer aquele que eu convivia no morro. Não sei como explicar, mas eu sentia na áurea dele a mesma coisa que eu setia quando ele estava no poder, no morro.
Sentir isso me reportava ao inferno, automaticamente. Ele agia com um jeito que parecia que tinha o proposito de me enlouquecer de verdade. Hora ele parecia me amar, parecia estar feliz e hora ele era frio, sem amor. Toda a sensibilidade que eu havia ficado na Rocinha estava voltando. Mas dessa vez eu estava sozinha mesmo, não tinha quem me salvasse. As vezes eu me apegava à ideia que ele estava mais um vez passando por um momento difícil, de mudanças, de medo, de duvidas, que pra ele como homem daquela familia também era difícil e logo eu compreendia ele. Ele teve que fazer contato com uma pessoa do morro por causa dos documentos, alias, essa pessoa sabia exatamente onde estávamos, e esse repassava as noticias sobre nossa família do Rio de Janeiro pra gente.
Foi uma época muito difícil pra mim, meu pai foi pra UTI e o médico desenganou ele, minha mãe estava em pânico, pois a policia estava na porta dela esperando qualquer contato e ela tinha pavor de alguém pegar meu sobrinho de refém pra exigir que o Saulo se entregasse. A esposa do irmão do Saulo havia sido expulsa de onde morava e o irmão dele foi ameaçado de morte pelo Comando Vermelho a cadeia. Enfim, um caos estava acontecendo no Rio de Janeiro. E a gente nada podia fazer. NADA!Tinhas que permanecer em silencio total pra não ser rastreado. Mas acredito eu que ele aproveitou esse contato dele com a Rocinha e falou com mulheres também pelo msn. Na verdade o que TODOS falam que eu fazia, quem fazia era ele. Eu não falava com NINGUÉM pela internet. Meus filhos não falavam com NINGUÉM pela internet, mas ele falava com muita gente do morro pelo MSN. Ele ia pra lan house e nunca deixava eu ir junto. Isso começou a geral brigas e mais brigas, por que eu já estava achando que ele estava com alguma conversa que eu não poderia ver. Mas como ele poderia ter segredo comigo? Eu e meus filhos ali nas mãos dele em prol dele e ele agindo pelos cantos.
Ele começou a viajar, hora pra resolver questões de documentos e hora pra fazer compras pra loja. Cada vez que ele ia pro aeroporto meu coração nem batia direito de tanto medo. Eu não ficava tranquila enquanto ele não voltava. Ele falou que tínhamos que investir nosso ultimo dinheiro em mercadorias pra que não gastar com besteira. E eu concordei com isso. Assim ele viajou umas 4 vezes. Mas em meio essas viagem eu estava tão insegura, tão sensível como mulher, que eu comecei a entrar numa depressão e no fundo eu estava sentindo que ele estava mesmo voltando a incorporar o Robinho Pinga, desatento, impaciente etc. Ele foi muito cruel comigo naquela época. Eu me levantava de madrugada pra chorar por causa do meu pai, porque sabia que ele morreria e eu não poderia vê-lo nunca mais. Ele se quer se mexia na cama pra me acolher. Agia uma frieza sem tamanho. Eu sempre ali como um cão fiel, querendo ele o tempo todo e ele chegou ao ponto de me falar que se incomodava com o meu assedio, que ele não gostava que eu ficasse querendo ele. GENTE! Pelo amor de Deus isso não é pra deixar qualquer um LOUCO. Ele falava isso, e horas depois transava loucamente comigo. Depois passava dias sem nem olhar pra minha cara com muita frieza. Cada vez que ele sumia pra ir a lan house eu entrava num estado de depressão terrível. Meu orkut, na época era controlado pelo meu sobrinho, mas muita gente pensava que eu anda mexia nele. Eu olhava tudo na internet como um anonimo qualquer, não podia de jeito nenhum ter qualquer ligação comigo ou com onde estávamos. Meu filho chorava olhado os orkuts dos amigos, sem poder fazer qualquer contato. Ele com essa coisa de ficar as escondidas fazendo contato com o morro, desencadeou uma revolta nacional lá em casa. Era injusto a gente ali, totalmente incomunicável e ele mesmo que era o maior interessado de papinho gostoso pelo MSN e orkut.
Pra piorar tudo, as mulheres que ele trepou no morro resolveram aproveitar a nossa ausência pra fazer gracinhas no orkut, divulgar mesmo que eram namoradas dele. INCLUSIVE aquela mesma que já vinha infernizando a nossa vida.Porraaaaaa quando eu vi isso! Veio tudo a tona de novo. E ele me tratando com tanta frieza, como se eu fosse uma escrava espiritual dele. E realmente eu estava exatamente assim. Eu me rebaixando a todas as vontades dele como uma escrava. Ele hora me rejeitava, hora me usava. Eu sofri muito nessa época, me sentia abandonada até por Deus.
Até que um dia no meio de uma discussão eu botei ele na parede pra ele tirar de vez aquela mágoa do meu coração, pra ele me falar se ele tinha me traído mesmo. E foi aí que ele me destruiu como mulher numa só palavra. Sim... Eu te trai!
Caralho... Parecia que eu estava sendo rasgada por inteiro. Uma dor que foi maior que qualquer sentimento aquele momento. Eu não conseguia me levantar do lugar. Ele falou isso muito seguro, ele sabia que eu estava nas mãos dele. Nossa, parecia que todo o oxigênio da Terra tinha acabado e eu o meu coração estava sendo espremido. A visão que eu tinha era ele sentado na minha frente me falando na maior tranquilidade que me traiu, sim, com varias mulheres. Alem dele me jogar num buraco escuro ele ainda jogou uns sacos de areia em cima quando me falou que queria que eu e as crianças voltássemos pro Rio de Janeiro que ele iria seguir sozinho por que o amor tinha acabado.O amor dele tinha a-c-a-b-a-d-o.
Imaginem, eu fiquei do lado desse homem quando TODOS viraram as costas, enfrentei bandido, repórter, policia, abandonei o lugar que eu nasci e fui criada, enfrentei medo, solidão, inveja, cobiça, tristeza e me mantive ali num único proposito, proteger ele. Coloquei meus filhos em risco, destruí mais a infância das crianças, cometi crimes, estava sendo perseguida pela policia que me enxergava como uma debochada e esse homem me fala com a maior naturalidade assim mesmo: Eu quero que vocês voltem pro Rio.
Porra foi como ganhar um tiro na cara de fogo amigo... Eu aos prantos perguntando porque? Porque? E ele só me falava assim: Acabou o amor.
Eu pensei: Meu Deus que castigo é esse? Como que eu vou voltar pro Rio com a policia toda na sede de pega-lo? Eles vão me arrastar em praça publica quando eu desembarcar e vão arrancar meu figado querendo saber onde ele esteve e onde ele esta. Toda a ira da sociedade cairia sobre mim se eu voltasse com meus filhos.Eu só consegui ter uma reação... Me levantei em silencio e fui ao banheiro tentar dar fim a toda aquela dor que eu estava sentindo. Peguei uma caixa de remédios tarja preta que tinha lá e engoli tudo. Mas ele desceu do imenso pedestal que estava e percebeu que tinha algo errado e arrombou o banheiro e já foi enfiando o dedo na minha garganta e fez eu vomitar ate não aguentar mais.
Foi um dia terrível pra mim. Eu cheguei no meu limite, no famoso fundo do poço.
Ele com aquela alternância de comportamento, me trouxe do banheiro e quis namorar comigo. GENTE por favor, me digam se eu que sou a louca dessa historia. Ele quase me matou de tristeza e minutos depois fez amor comigo. Aquilo parecia um plano diabólico pra me destruir, me enlouquecer ou coisa parecida. Ele no meio daquela crise, simplesmente fez uma tatuagem com meu nome no braço. Eu não entendia como ele podia ser tão confuso nos pensamentos dele e aquilo me deixava mais pirada.
As crianças coitadinhas, viram que estava acontecendo algo de errado. Meu filho me viu de definhando de tristeza e me falou que até hoje eu me lembro: Mãe vamos embora, ele não quer mais a gente!A minha filha começou a ir pra igreja e fez de tudo pra gente ir no encontro de casais. Definitivamente tinha algo de muito ruim ali, tentando acabar com a gente de verdade. Nos fomos na igreja e eu olhava ele ali me beijando, mas sabe quando você sente que a pessoa parece fingir. Eu não aguentei quando a pastora começou a falar sai correndo aos prantos. Correndo mesmo!
Nessa época, em um dos dias de crise do Saulo, ele me levou a praia pra mais uma vez me falar que não me amava mais. E quando voltamos pra casa, infelizmente a cachorra do meu filho ficou pro lado de fora do portão. Foi outra perda irreparável. Perdemos a luna... Até hoje eu não aceito isso. Nós botamos fotos, telefone, as pessoas ligavam falado que tinham achado, as crianças festejavam, mas na hora não era ela. Era uma tristeza sem fim quando voltávamos pra casa sem ela. Tadinho do Celso, chorava muito quando iamos, muitas vezes dentro de favelas e chagava lá era trote, ou não era ela que estava la.
Eu fiquei alguns dias totalmente doente. Não conseguia me levantar pra nada, fui parar em hospital etc.
Ele começou a cuidar de mim, me dava comida na boca e tudo e aos poucos foi diminuindo a intensidade da dor. Ele me levou num show do Sorriso Maroto, que aconteceu lá. Foi bom pra dar uma injeção de animo. Mas olha por incrível que pareça, eles chegaram lá com uma musica que parecia que tinha sido feita pra mim.
Quando eu consegui entender o que eles estavam cantando, meu astral mudou na hora. Eu continuei sorrindo, porém sangrando por dentro. Parecia ele cantado pra mim aquilo, por que o meu marido estava em suaves prestações me perdendo mesmo. Mas apesar de eu achar que Deus não estava mais por ali, ele estava sim. E mais forte que nunca porque só ele conseguiu evitar o pior.Letra:
Choro toda vez
Que entro em nosso quarto toda vez
Que olho no espelho toda vez
Que vejo o seu retrato
Eu não tô legal
Não vai ser fácil de recuperar
A vontade de viver
Tô sem astral
por falta de você
Pior que nada que eu faça
Vai mudar sua decisão, de separação
Eu reconheço os seus motivos
Ta coberta de razão
Pra você, caso de traição não tem perdão
Sei que é tarde pra me arrepender
Inconsequente, fraco
Eu traí você
Sabemos bem quem vai sofrer
Hoje só Deus sabe a minha dor
Eu tive que perder pra dar valor
Não serei o mesmo sem o teu amor!
Apesar de estar muito sensível, o pior já havia passado e tudo muito
lentamente começou a voltar ao normal. Nós ainda dentro de tudo,
ainda tentávamos levar a vida. Apesar das crianças estarem no meio dessa
historia toda, ainda guardavam uma ingenuidade e isso fazia com que
algumas horas esquecêssemos de tudo que estávamos passando.
Ele sempre se comunicava com a pessoa que era a ponte entre a gente e as informações sobre as nossas famílias. Quando recebemos a noticia que o medico do meu pai havia liberado ele pra passar o natal e ano novo em casa porque o fim dele estaria próximo. Pronto, eu fiquei arrasada com aquilo, mas voltar nem pensar.
Ele sempre se comunicava com a pessoa que era a ponte entre a gente e as informações sobre as nossas famílias. Quando recebemos a noticia que o medico do meu pai havia liberado ele pra passar o natal e ano novo em casa porque o fim dele estaria próximo. Pronto, eu fiquei arrasada com aquilo, mas voltar nem pensar.
Foi quando decidimos fazer um vídeo pra mandar pra nossas famílias, pois todos estavam muito tristes sem noticias nossas. Ele até que disfarçou bem que estava tudo mil maravilhas, mas eu, nessas alturas, parecia berrar por dentro e por fora, por ajuda.
Foi pouco o tempo que tivemos daí pra frente. Ele sempre agia daquela forma que me fazia mal cada vez mais. Tudo de ruim vinha a tona quando ele me tratava daquele jeito. Eu me sentia feia, me sentia menos que qualquer mulher do planeta. As vezes eu ia pra loja e ficava la sozinha, chorando.
Um dia meu filho virou pra mim e falou assim: Mãe, se quando eu estiver na 8ª serie, descobrirem meu nome verdadeiro. Eu terei que voltar pra 4ª serie? E o dia que eu tiver um filho, ele também vai ter nome falso?
Caralho! Foi como um tiro. Eu não sabia o que responder pra ele.
Eu fiquei com aquilo na mente e cada vez que o meu marido agia de forma estranha, como se quisesse se livrar da gente, aquilo vinha na minha mente. Uma coisa muito ruim foi tomando o meu coração e eu já comecei a enlouquecer de verdade. Comecei a ver um caixão quando olhava pro meu marido. Eu fui tomada por uma coisa que realmente era alimentada do sentimento ruim que ele me fez sentir. Eu comecei a pesquisar como matar ele. Eu já estava conseguindo disfarçar, simular sorrisos, uma coisa diabólica mesmo. Ai cheguei a conclusão que veneno seria terrível por que ele sofreria muito de dor e não morreria rápido.
Aí pensei assim: Ahh porra! Eu estou em Maceió, lugar mais fácil de achar um matador do planeta.Cada vez que ele falava que queria que a gente fosse embora pro Rio de Janeiro o diabo soltava fogos. Agora ele tinha desabrochado tudo de ruim que existia. Minha vontade era chegar no Rio de Janeiro e jogar o caixão e falar: Aí o que vocês estão procurando! Acabou! Mas aí Deus começou a trabalhar com 220 volts mesmo. Deus confundiu a minha cabeça e atrasou meus planos, porque quando eu ia procurar alguém pra fazer o serviço, me veio as crianças na cabeça. Não saia da minha mente eles ajoelhados lá em Minas orando pro pai chegar com vida. E ali eu cai de novo numa tristeza por que já não tinha certeza se eu suportaria ve-lo morto. Se eu suportaria, ver as crianças olhando ele caído no chão com um tiro na cabeça. Todos esses pensamentos me confundiram e retardaram meus planos. Ele queria me mandar, queria ir comprar passagem, ai decidimos então passar o ultimo final de semana em Maragogi pra uma especie de despedida. Seria o tempo que eu precisava pra ter certeza que eu conseguiria viver sem ele. Parecia mesmo que tudo estava a favor do desgraçado. O pneu do carro furou, a gente mal tinha dinheiro, mas mesmo assim fomos. E foi um final de semana maravilhoso. Eu esqueci completamente de tudo de ruim que estava na minha cabeça. INCRÍVEL o poder do amor, gente. Pois naquele final de semana ele agiu como o homem que eu tinha me casado em 1995 e fez todo amor voltar com mais força pra lutar por ele. Puta que pariu, era Deus mesmo, me preparando pra mais uma burduada. Nós passeamos nas piscinas naturais, de madrugada fugimos das crianças com uma garrafa de vinho e fomos namorar na praia. Ali ele posteriormente falou que havia desistido de me mandar embora e eu desistido de mata-lo. Estava selada a paz. O amor que eu sentia por ele e o que ele dizia sentir por mim voltou, não atoa, mas sim pra dar suporte pra tudo que estaria por um fio de cabelo pra acontecer e nem eu nem ele imaginávamos. Mas como ele mesmo disse 1 dia do vendaval na nossa vida: "Bibi aconteça o que acontecer, eu sempre vou te amar." Parecia que eles estava pressentindo também.
Ai comecei a montar tudo na minha cabeça, onde ele morreria, e como eu teria que fazer porque afinal ele estava com um documento falso. Cade vez que ele sumia pra ir a lan house e me tratava com frieza eu sentia uma coisa muito ruim.
Alias, por incrível que pareça no sábado a tarde, estávamos na praia, eu ele e o caseiro do condomínio, quando um homem chegou do nada e parou olhando o mar. Eu olhei pra ele e ele me olhou bem nos olhos. Eu senti que ele era do Rio de Janeiro. Não sei porque, mas eu senti. Em questões de segundos ele sumiu. Aí nem dei importância.
A noite acabou nesse clima de amor. Assim que acordamos e tomamos café, não passou 1 hora, um homem chamou ele na porta da casa e em segundos, nosso sonho estava chegando ao fim... Era a Policia Civil do Rio de Janeiro.Eu estava deitada no sofá e levei um susto tão grande porque eles já entraram com ele algemado e botaram ele setado no chão. Eu dei um pulo do sofá e as crianças começaram a chorar sem parar, tentando chegar perto dele. Até o delegado ficou com pena e tirou a algema e mandou ele acalmar o Celso e a Dalila. Eu não conseguia parar de chorar desolada... Eles ligaram na hora pro Rio comemorando... É muito ruim estar sofrendo enquanto alguém comemora, mas quem se envolve no crime tem que estar preparado pra isso, e nós perdemos tanto tempo com brigas internas que esquecemos que nossos inimigos eram outros. Demoramos demais pra agir e o registro da casa estava no meu CPF. Lembram quando eu falei que havia comprado em 2006 e não tinha ninguém pra botar no nome. Nós iriamos exatamente naquela semana passar pro nome falso dele, mas não deu tempo.
Na hora de ir embora, foi muito ruim ver ele naquele carro já algemado, indo, saindo de perto de mim. Agora eu já não poderia mais fazer nada pra protege-lo.
A ultima coisa que ele me falou entre os beijos que eles permitiram que ele me desse foi: Bibi, vai em casa, pega as coisas e vai pro Rio de Janeiro agora.
O delegado me orientou a não ir pro aeroporto de Recife, pois tinha muita imprensa lá. Eu obedeci e sai por maceió mesmo. E pior, eu ainda tinha uma missão, não deixar eles saberem que a minha casa era em Maceió. Eles acharam que era na Paraíba. Eu fiquei com muito medo da policia descobrir, pois tudo lá era no nome falso.
Quando eles viraram a esquina, eu me desculpei com o caseiro, por ter mentido pra ele tanto tempo, e ele, Everaldo, morador de São Bento, foi simplesmente piedoso comigo e falou que eu não me preocupasse que ele não estava com raiva não.Olhei aquela casa, vi ali meus sonhos todos serem levados como uma onda que vem e leva tudo pro mar. Peguei as crianças e parti pra uma viagem de 2 horas de carro. Corri muito pois queria sair antes que passasse na Televisão. Quando entrei em casa entrei no meu antigo MSN e pedi que um grande amigo/ irmão, o Mirim. Esse meu amigo morava lá na Vila dos Pinheiros e na hora só pensei nele mesmo. Pedi que ele fosse correndo pra Rocinha e pedir pro Nem mandar um advogado pro aeroporto que o Saulo tinha acabado de ser preso.
Aí ele falou que não tinha dinheiro pra ir rápido, eu falei: Pega um moto táxi e chega lá pede pra algum bandido pragar, Mas vai AGORA!
Daí quando vi a cara do Saulo já estava nos sites do Nordeste. Foi um corre corre. Eu tinha muito medo da policia de Alagoas. Corri muito pra sair logo de casa.
Mas tinha um problema, nós não tínhamos dinheiro e eu não poderia deixar o carro jogado no aeroporto.Aí as crianças lembraram que tinha 50 reais no cofre de porquinho. Mandei eles pegarem o que mais gostavam e saímos vuando pro aeroporto. Mais uma vez eu tive que abandonar minhas coisas. Eu sempre me despedia de tudo porque sabia que muita delas eu jamais reaveria. Mas o dinheiro que tinha na conta era exatamente o valor de 3 passagens. Eu não tinha mais nada. Tivemos que esperar mais de 8 horas no aeroporto, com sede e fome. As crianças chorando querendo comer, e eu tendo que me manter calma, acalmando eles, que já já iriamos comer no avião.
Assim me despedi de Maceió e deixei todo o meu sonho pra trás. Ao sobrevoar o Rio de Janeiro, eu não conseguia sentir emoção de nada. Estava destroçada.Meu primo Beto, que eu tenho verdadeira paixão, que foi no aeroporto me buscar. Ele sempre esteve firme ao meu lado. Desde o primeiro dia que o Saulo havia sido preso em 2005.
Ele que me ajudou com a minha mudança na Tijuca, ele que me acompanhava na Rocinha no inicio que eu tinha medo, ele que me fez companhia, alias ele e a esposa dele, a Renata, que é como um irmã pra mim.
Pois é lá estava eu de volta desembarcando no Rio de Janeiro, com uma muda de roupa e um coração ferido no peito. Lá estava eu ali respirando fundo novamente, pra encarar a longa jornada que estava por vir. Eu totalmente sem definição de nada na vida só sabia que eu tinha novamente, dois filhos e um marido preso pra cuidar...
Material retirado do blog:
http://bibi-perigosa.blogspot.com.br/2012/05/trafico-de-drogasilusoes-e-realidades_19.html
Apenas para fins de pesquisa, não cabe aqui qualquer tipo de julgamento ou preferência.
Eu te admiro Bibi!
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