Quadrilha Feminina no Rio de Janeiro (Nov/2011)

NEGRIARA 

RIO - A chefe de uma quadrilha feminina que praticava assaltos a turistas, Luciana Araújo da Silva, 31 anos, foi presa nesta sexta-feira por policiais da 61ª Xerém, durante a Operação Duas Rodas. Ela foi surpreendida em uma moto Honda Biz, preta, de 2003, na Vila dos Blocos, conhecida como Pombal, em Xerém.
Segundo os policiais, Luciana está condenada a 11 anos de prisão com base em um inquérito policial feito pela Delegacia Especial de Apoio ao Turismo, em 2004. Além dela, foram condenadas as cúmplices Kleydi Alves Ferraz, Cláudia Freitas Fonseca e Maria da Silva Braga, que ainda estão foragidas.
Durante a operação, além da prisão de Luciana, 15 motos irregulares foram apreendidas. A mulher ficará em uma carceragem da Divisão de Captura-Polinter.

Garotas furam bloqueio e são perseguidas por mais de 10 km

NEGRIARA
 
Veículo quase atropelou policial no Guarujá, em SP.

Polícia encontrou crack e cocaína no carro.

Carro utilizado pelas duas adolescentes durante perseguição policial (Foto: TVTribuna.com) 
Carro utilizado pelas duas adolescentes durante perseguição policial (Foto: TVTribuna.com)
Uma perseguição policial terminou com a apreensão de duas adolescentes na madrugada desta segunda-feira (23), no Guarujá, no litoral paulista. As duas jovens, uma de 14 e outra de 15 anos anos, pegaram o carro de um aposentado, que afirmou ser amigo delas, por volta das 5h. Após ser flagrada em alta velocidade, a dupla deu início a uma perseguição que envolveu vários carros da Polícia Militar e durou mais de 10 km.
A perseguição começou quando um carro da PM estava parado em um cruzamento, no bairro da Enseada. Ao se aproximar, o veículo guiado pela garota mais velha quase atropelou um dos policiais, que pediu para as meninas pararem. O carro, porém, continuou acelerando e os policiais solicitaram reforço.
Vários bloqueios foram formados em pontos estratégicos da cidade para tentar parar o veículo. Em um deles, as adolescentes subiram na calçada e passaram por um vão entre um carro da polícia e um poste, seguindo na contramão por algumas ruas.
Os policiais resolveram, então, atirar três vezes contra o carro. Mesmo assim, as jovens continuaram a fuga e só foram parar na Avenida Santos Dumont, em Vicente de Carvalho, quando um pneu furou e o veículo se chocou com um carro da Força Tática.
Após apreender as adolescentes, os policiais fizeram uma revista no carro e encontraram três porções de crack e dois papelotes de cocaína. O dono do carro, um idoso de 74 anos, se apresentou como amigo das adolescentes, que estariam na casa dele durante a madrugada. Em um momento de distração, segundo ele, elas teriam pegado a chave e saído com o carro. As menores foram encaminhadas para a Delegacia Sede de Guarujá.

 24 comentários para análise....
 
        Lucas GuastaferroBelo Horizonte, MG
  • Cadeia para que meu Brasil? São apenas crianças! Ô lei ridícula esta a brasileira... No primeiro mundo menores podem ser julgadas como adultos dependendo do crime. Já aqui... praia, sol e churrasco... deixa para lá né...
    8 minutos atrás
  • Filipe FernandesSão Paulo, SP
    G1 SEUS BOSTAS, PARA DE FICAR APAGANDO COMENTÁRIOS MANÉS
    14 minutos atrás
  • Tiago Beltrão
    Tomara que alguém dê jeito (mate) nessas duas bandidas antes que elas cometam crimes ainda piores...
    15 minutos atrás
  • Erasmo Taborda
    JÁ TAVAM DANDO PARA O VELHO DE 74 ANOS ,DE MADRUGADO NO AP DELE ?
    18 minutos atrás
  • Andersen AndradeSalvador, BA
    Com certeza o velho é um pedófilo, e as meninas são prostitutas-mirins... logico que ninguem vai confirmar isso...
    21 minutos atrás
  • Jose SantosSão Paulo, SP
    Peço a "DEUS" que liberte estas vidas das drogas...Para "ELE" nada é impossível!!
    40 minutos atrás
  • Digo Rodrigo
    elas estavam louquinhas pra dar....safadinhas!
    41 minutos atrás
  • Elias FigueiroCuritiba, PR
    Ninfetass =P
    60 minutos atrás
  • Humberto Ronque
    Homem 74a. hospedando (marginalscentes) adolescentes, drogas,... Nada a declarar.
    1 hora atrás
  • Junior Ibba
    Sei não.... acredito q tem coelho nesse mmato..... hum... e vcs..... o q acham..????
    1 hora atrás
  • Jocarly Pessoa
    Elizangela , que bom seria se todas as pessoas do planeta pensassem iguais a você . Com certeza , o mundo não seria essa balburdia que se apresenta . Continue assim , firme em seus propósitos . Que seu exemplo seja seguido . Parabéns .
    1 hora atrás
  • Victor CiarliniFortaleza, CE
    VELOZES E FURIOSAS
    1 hora atrás
  • Sophia Borges
    Se o idoso tem alguma coisa com isso, a polícia vai descobrir...e essas garotas não devem ter família para ficar de madrugada na casa dos outros. Espero que revejam as leis e que adolescentes paguem pelos seus atos como adultos. Aliás, nem adulto paga pelos seus crimes nesse país...o melhor mesmo é parar esse mundo que eu quero é descer...
    1 hora atrás
  • Julio Oliveira
    Concordo com a Elizangela, a lei precisa mudar!!! Um adolescente com 14 anos já sabem muito bem distinguir o certo do errado! Quando o BRASIL vai atualizar a CF?
    2 horas atrás
  • Fabio Santos
    só eu que achei estranho o fato de um idoso ser "amigo" das meninas e que elas estavam na casa dele de madrugada?
    2 horas atrás
  • Elton Adorno
    duas delinqüentes, a polícia é para a garantia da lei e da ordem e desordem tem que ser punida
    2 horas atrás
  • Elizangela
    nem p elas bater em um poste e morrerem neh gente ...agora graças as malditas leis duas noias soltas.. e o prejuizo vaii para o estado p concertarem os carros da poliçia ...isso aii e falta de uma boa surra dos pais isso sim .... e p falta de lei p punir esses vermes q insistem em chamarem de menor ...menor na idade neh justiça .agora p sair p aii fazendo estragos e abusando d drogas ah sao bem grandinhos ...francamente ...
    2 horas atrás
  • Gabriel Kiffer
    Isa Eletric, levante a bandeira contra os corruptos, vá as ruas e mostre a cara, denuncie e faça acontecer ou então fique quietinha se não tem nada de bom pra comentar. Teu comentário é lamentável
    2 horas atrás
  • Pegaimoveis
    uma boa surra e pronto,ai o pai vai preso,ai chama o advogado,ai vende o carro e pronto
    2 horas atrás
  • Fredy Gruger
    Nossa q doidas... essas minas andam vendo muito filme americano...
    2 horas atrás
  • Maria Erilane
    Essas garotas estão assistindo muito filme de ação policial americano...kkkk Totalmente malucas.
    2 horas atrás
  • Pedro NeresHortolândia, SP
    Parabéns moderação, vocês são fodas.
    2 horas atrás
  • Pedro NeresHortolândia, SP
    Isa Elétric, espero que você tenha uma morte lenta e dolorosa por proferir tais asneiras.
    2 horas atrás

Veja neste blog: O tratamento da mídia diante de atos criminosos femininos

NEGRIARA     
    Em termos históricos, o fenômeno da violência, da desorganização social e da delinqüência nas culturas juvenis, começou a ser sistematicamente estudado nos Estados Unidos no início do século XX. Tais estudos foram ganhando destaque pelo mundo, em função da tipologia e idade dos jovens. Fica claro, que entre meninos e meninas tanto os dados estatísticos, quanto noticiários dão preferência de ibope para crimes/atos violentos praticados por meninos. Seria a "fragilidade"ou o processo de vitimização feminina a causa da invisibilidade diante de crimes e atos violentos praticados? 
* "Em baladas as mulheres se tornam mais violentas?"


Mulheres rebeldes II: Ângela Davis no Brasil

NEGRIARA 

Angela Davis: Obama vai aprender algumas lições no Brasil
Aos 65 anos, Angela Davis continua a mostrar por que se tornou um ícone do movimento negro norte-americano nos anos 1970. Bastam minutos de conversa com a hoje pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz (EUA), para perceber a facilidade em expor, numa linguagem clara, linhas de raciocínio complexo, fruto do aprofundamento que marca sua produção acadêmica.
Um exemplo é quando explica a visão que tem do feminismo, para além do embate de gênero. A jovem ativista de outrora continua também a fascinar a juventude.
Este segmento foi o público mais constante nas palestras que ela realizou, na última semana, em Salvador, como convidada da 12ª Edição da Fábrica de Ideias, programa anual sediado no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao/Ufba ).
Coordenada pela doutora em sociologia Ângela Figueiredo e pelo doutor em antropologia Lívio Sansone, a Fábrica oferece treinamento para jovens pesquisadores em estudos étnicos.
Angela Davis, inclusive, discorda de quem costuma apontar a juventude do mundo atual como apática, do ponto de vista político. Para ela, cada geração tem sua forma própria de atuação.
“A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais”, afirma.
Candidata pelo PC dos EUA
Angela tornou-se bastante conhecida nos anos 1970, como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos e dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história americana.
Angela nasceu no estado do Alabama, um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e desde cedo conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade.
Nos anos 60, Angela tornou-se militante do partido e participante ativa dos movimentos negros e feministas que sacudiam a sociedade americana da época.
Em 7 de agosto de 1970, três rapazes interromperam o julgamento de James McClain, acusado de ter esfaqueado um policial. Os três retiraram o juiz, o promotor e vários jurados para uma van estacionada do lado de fora.
No tiroteio que se seguiu com a perseguição policial ao grupo, dois rapazes foram mortos pela polícia. O incidente também terminou com a morte do juiz Harold Haley com um tiro na garganta.
O promotor raptado ficou paralítico com um tiro da polícia. A polícia afirmou que a arma de um dos rapazes estava registrada em nome de Angela Davis.
Com sua prisão decretada pelo estado da Califórnia e o FBI em seu encalço, Ângela fugiu do estado e desapareceu por dois meses, sendo alvo de uma das maiores caçadas humanas do país na época, acompanhada dia a dia pela mídia, até ser presa em Nova York em outubro.
O julgamento de dezoito meses que se seguiu, colocou uma mulher negra, jovem, bonita, culta e politizada, assessorada por uma equipe brilhante de advogados, no centro das atenções da imprensa americana.
Dezoito meses após o início do julgamento, Angela foi inocentada de todas as acusações e libertada. John Lennon e Yoko Ono lançaram a música Angela em sua homenagem e os Rolling Stones gravaram Sweet Black Angel em sua homenagem.
Angela Davis candidatou-se a vice-presidente dos Estados Unidos em 1980 e 1984 como companheira de chapa de Gus Hall, presidente do Partido Comunista americano, tendo votação irrisória. Continuou sua carreira de ativista política e escreveu diversos livros, principalmente sobre as condições carcerárias no país.
Nos últimos anos continua a fazer discursos e palestras principalmente em ambientes universitários e se mantém como uma figura proeminente na luta pela abolição da pena de morte na Califórnia. Em 1977-1978 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz.
Nesta entrevista concedida à repórter Cleidiana Ramos, do jornal baiano A Tarde, com o auxílio da tradutora Raquel Luciana de Souza, Angela Davis falou, dentre outros assuntos, sobre as lições que o governo brasileiro pode oferecer a Barack Obama, em relação a uma política de maior aproximação com a África.
A TARDE — É a segunda vez que a senhora vem à Bahia. O que notou sobre a questão racial e de gênero aqui?
Angela Davis — O termo feminismo é ainda bastante contestado, como também é contestado nos EUA. Mas, eu descobri que há mulheres ativistas que estão fazendo um trabalho bastante semelhante. Então, nesse sentido, não faz diferença como uma pessoa se identifica. Tem mulheres que estão trabalhando nessas questões de violência contra a mulher, assistindo vítimas dessa violência e, ao mesmo tempo, pensando em formas de se erradicar um fenômeno que é uma pandemia por todo o mundo. São questões que eu acredito que perpassam as fronteiras nacionais. Acredito que ativistas nos EUA podem aprender muito com ativistas aqui do Brasil.
Ao que atribui a resistência ao termo feminismo?
Há essa resistência ao termo feminismo porque pressupõe-se que se adotem posições vazias: Há posições antimasculinas, anti-homem. Quando feministas brancas formularam pela primeira vez essa noção de direitos das mulheres, elas estavam somente prestando atenção à questão de gênero e não prestavam atenção à questão de raça e de classe. E nesse processo elas racializaram gênero como branco e colocaram uma questão de classe como uma classe burguesa, mas as feministas negras argumentaram que você não pode considerar gênero sem considerar também a questão de raça, a questão de classe e a questão de sexualidade. Então isso significa que as mulheres têm de se comprometer a combater o racismo e lutar tanto em prol de mulheres como de homens.
É uma visão bem diferente daquela que a maioria das pessoas tem sobre feminismo.
O tipo de feminismo que eu abraço não é um feminismo divisivo. É um feminismo que busca a integração. Mas, como disse anteriormente, estou mais preocupada com o trabalho que as pessoas fazem e o resultado que alcançam do que se estas pessoas se denominam feministas ou não. Muito do trabalho histórico tem descoberto tradições e legados feministas de mulheres que nunca se denominaram feministas, mas nós as localizamos dentro de uma tradição feminista. Eu já vi trabalhos que falam sobre Lélia Gonzalez no Brasil denominando-a feminista e eu não sei se ela se considerava feminista. …
A senhora pensa em escrever algo sobre as suas impressões em relação à Bahia?
Eu acho que sim. Mas eu teria de voltar aqui e passar um pouco mais de tempo fazendo uma pesquisa substantiva. Estou bastante impressionada com o ativismo das mulheres em Salvador e, em geral, aqui é um lugar maravilhoso.
A Cidade das Mulheres, de Ruth Landes, trabalho realizado na década de 30, trata do poder feminino no candomblé da Bahia.
Aqui no Brasil, o poder que as mulheres exercem é uma base muito poderosa para o poder feminista no Brasil. Eu escrevi um livro, Legados do Blues, e o meu argumento é que as mulheres do blues, durante os anos 20, ajudaram a forjar um feminismo da classe trabalhadora.
Os EUA elegeram pela primeira vez um presidente negro. Passado esse primeiro semestre do governo Obama, como a senhora avalia as suas ações?
Ele fez coisas boas e fez algumas coisas ruins. A minha posição em relação a Obama nunca foi de pressupor que um homem sozinho, independentemente de sua raça ou classe, pudesse salvar o país e o mundo. O que foi bastante entusiasmante em relação à sua eleição foi o que nós aprendemos sobre o país. O fato de que tantas pessoas estavam predispostas a votar nele nos diz que houve progresso. É claro que não atrapalhou o fato de ele estar disputando a eleição com o partido de George Bush. A segunda questão é que Obama apresentou-se como alguém conectado a uma tradição de luta negra. Ele se identifica com o movimento dos direitos civis, com figuras como Martin Luther King. Um homem negro que tivesse uma política conservadora não teria feito a diferença em termos de ponderarmos sobre onde estamos agora. A terceira questão e, provavelmente, a mais importante, é que Obama foi eleito porque os jovens criaram esse movimento em massa.
Este é um aspecto bem interessante sobre a vitória de Obama.
A eleição de Obama nos transmitiu o que estava acontecendo em termos de organização de uma juventude com um movimento de base. Eram jovens negros, brancos, latinos, indígenas. A minha esperança está na capacidade de esse movimento ir na direção correta. Por outro lado, Obama não tem tomado bons posicionamentos, como em relação à questão da manutenção das tropas militares no Afeganistão.
O governo brasileiro adotou uma política de aproximação com os países africanos. Há muita esperança de que o governo Obama possa fazer o mesmo. Esta esperança, em sua opinião, pode se confirmar?
Obama tomou uma boa decisão ao visitar à África. Ele visitou Gana. Isso prova que sua visita não era simplesmente em função das suas origens, mas também para discutir problemas sérios. Em, termos de relação entre os EUA e a África, principalmente na questão histórica, foi muito importante a visita de Obama aos fortes de Gana, da Costa do Cabo e à porta do não-retorno. Foi muito importante para os EUA verem isso. Os afro-americanos já conhecem esses lugares. Eles viajam ao Senegal, a Costa do Cabo, mas esta foi a primeira vez que essa conexão histórica entre EUA e a África foi evidenciada. Isso estimulou uma discussão sobre o papel da escravidão. Logo depois, por exemplo, houve reportagens sobre a plantação onde um bisavô de Michelle Obama foi escravo.
As questões históricas ganharam destaque.
Estas questões históricas são importantes. Mas o que eu considero ser muito difícil para Obama fazer é reconhecer os danos horrendos que o capitalismo causou à África. As políticas de ajustes estruturais do FMI e do Banco Mundial fizeram com que vários países africanos desviassem recursos de serviços sociais para setores lucrativos da economia. Acredito que isso é que tem de ser abordado. Eu sei que o Brasil tem uma posição mais progressista em relação à África. Então, provavelmente, quando Obama visitar o Brasil ele vai poder aprender algumas lições. Quando isso acontecer, estaremos extremamente felizes porque nós ficamos muito envergonhados quando o George Bush veio e disse: Eu não sabia que havia negros no Brasil.
O que pensa sobre as ações afirmativas no Brasil?
Não tenho acompanhado esta discussão rigorosamente. Mas, na minha primeira visita ao Brasil, em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, as pessoas estavam apenas começando a reconhecer que o Brasil não era uma democracia racial. As ações afirmativas ainda estão sendo muito atacadas nos EUA, mas têm sido responsáveis pela integração de várias instituições em lugares, por exemplo, como a África do Sul. Eu sei que aqui no Brasil elas acontecem no que diz respeito às universidades. As ações afirmativas são um instrumento muito importante. O discurso nos EUA modificou-se. No lugar de se falar sobre ações afirmativas fala-se agora sobre diversidade, o que é problemático. A administração de George Bush foi a administração mais diversificada na história dos EUA antes da administração de Obama. Mas ele colocou em seu governo negros e latinos conservadores. Essa diversidade tem sido definida como a diferença que não faz a diferença.
Quando foi implantada a política de ações afirmativas nos EUA?
Em 1977, tivemos o primeiro desafio jurídico às ações afirmativas. Isso aconteceu num caso levantado por um homem branco que não foi admitido para a Universidade da Califórnia e desde então há o caso de vários outros processos judiciais impetrados por brancos que argumentam ser vítimas de um racismo às avessas.
No Brasil, o STF prepara-se para julgar a constitucionalidade das cotas a partir de uma provocação do DEM.
A meu ver, deve-se desafiar pressuposições de que o caso trata apenas de homens brancos como indivíduos e mulheres negras como indivíduos que estão ali lutando por um emprego. As ações afirmativas nunca foram concebidas para ajudar indivíduos apesar do fato de que indivíduos se beneficiam das mesmas. A ideia é soerguer uma comunidade inteira. Trata-se de uma população que foi objeto de discriminação. Tanto nos EUA como no Brasil nós ainda vivemos com o sedimentos da escravatura. A escravidão não é somente algo que existe no passado. Habita o nosso mundo hoje em dia, com toda a pobreza, o analfabetismo. As ações afirmativas são um passo inicial em termos de se abordarem questões de escravatura, colonização. Esquece-se tudo isso. Parece que existem só duas pessoas: um homem branco e um homem negro, ou um homem branco e uma mulher negra.
A senhora vem de uma geração muito politizada. Como analisa a ação política da juventude do mundo atual?
Eu estou muito entusiasmada. Não sou o tipo de pessoa que gosta de deitar nos louros da minha geração. Eu sei que cada geração abre uma nova trilha. Frequentemente pessoas que se engajaram em movimentos pressupõem que cada geração tem de fazer a mesma coisa da mesma forma. A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais. Grande parte do meu ativismo é contra o complexo industrial carcerário. Este é um movimento cuja maioria é constituída por jovens que utilizam métodos diferentes. Eles utilizam representações culturalistas, como música, e usam novas formas de comunicação, como facebook. Estou aprendendo muito com isso.
É um movimento interessante, então.
Estou feliz que eles tenham feito isso, porque se transforma o terreno para que se possa desenvolver novas ideias, expandindo o nosso conhecimento sobre as possibilidades para a liberdade. Por isso eu acho tão importante prestar atenção nos jovens. Eu não acredito nessas pessoas que dizem que os jovens são apáticos que eles não estão fazendo nada. Nós precisamos acompanhar este movimento, de maneira que estas noções de liberdade se expandam e se tornem mais abrangentes porque eu não acredito que chegaremos num ponto no qual possamos dizer isto é liberdade, nós chegamos ao topo da montanha e podemos parar de lutar. Acho que será uma luta infinita e as vitórias que conquistamos nos permite imaginar novas liberdades. O discurso de Martin Luther King, conhecido como Eu tenho um sonho, fala sobre chegar ao topo da montanha. Ele nunca diz o que se vê ao chegar ao topo da montanha. Acredito então que cada geração vai criar novas imaginações do significado de ser livre.
Fonte: Blog Vi O Mundo

Análise Crítica da obra de Toni Morrison – “AMADA” e interlocuções com os textos da historiadora Joan Wallach Scoot .

NEGRIARA
 Resumo:
O objetivo do texto que se segue, é versar sobre algumas questões para uma possível reflexão de natureza conceitual entre História e as relações de gênero e raça, dando ênfase especial à obra literária de Toni Morrison – Amada e as discussões empreendidas pela historiadora, militante feminista Joan Scott, discorre também sobre o papel da História e da Narrativa no trato das relações de gênero, raça e violência enquanto objeto de estudo indispensável e “categorias úteis de análise histórica”.

Palavras-chaves: História, Mulher Negra, Narrativa, Categoria
 Certos assuntos requerem muita ousadia em sua abordagem, certas questões estão tão espinhosamente incrustadas no senso comum ou tão naturalizadas através de uma perspectiva tida como “auto-evidente” que qualquer tentativa de pensá-la a partir de outros prismas enfrentará ferrenhas resistências. Esse é um dos motivos pelos quais o livro Amada (1987), de Toni Morrison pode ser considerado uma das grandes obras da literatura mundial. A Academia Sueca sublinhou, ao laureá-la, sua “força visionária e relevância poética”, duas características que podem ser tranqüilamente vislumbradas em Amada.
O “simples” fato de abordar a questão da escravidão, por mais que essa tenha “oficialmente” terminado, mostra como a questão da discriminação racial e preconceito ainda estão borbulhando nas relações sociais, aflorando ocasionalmente e constituindo-se prática cotidiana dependendo do entorno social que as circunda agravando-se na condição de mulher. Aprofundar um olhar sobre o período pós-abolição, procurando deslindar como a extinção “oficial” da escravidão foi um processo que não pôs um fim para a “questão racial”, desconstruindo certas visões de um dos baluartes da democracia e da igualdade, é, definitivamente, um ato de ousadia. A sensibilidade da autora tem de ser destacada aqui, pois, lidar com um tema tão intrincado como a escravidão sem cair em uma visão por demais melancólica ou que coloca os escravos como vítimas passivas que nada faziam para mudarem sua condição são, para começo de história, um diferencial do livro e evidência de uma compreensão dos escravos enquanto sujeitos de suas histórias.
Tratando de uma questão muitíssimo atual e percebendo nuances que somente uma compreensão ampla poderia proporcionar, Toni Morrison constrói um trama muito interessante sobre como “marcos históricos” escondem perspectivas individuais muito mais ricas e peculiares, que revelam detalhes muito mais significativos do que obsessões totalizantes. Nada mais adequado para mergulhar no universo cotidiano dos escravos do que lastrear sua obra no espectro de significados e experiências deles próprios, mesmo que essas sejam tão dolorosas quanto as “árvores” de feridas que marcam suas costas laceradas pelas chibatas de seus ex-senhores. O grande valor do livro não se encontra na abordagem das metafísicas, mas sim na forma como retrata a questão da memória, do imaginário social coletivo, e do sentimento de resistência do elemento negro em relação as mazelas da escravidão. A história pode colaborar na luta pela promoção de uma sociedade com relações de gênero e raça não hierárquica? É papel desta área de  conhecimento  se  preocupar  com  esse  tipo  de  problemática?  Essas  são  algumas  perguntas  que  devem  ser enfrentadas, e cabe às(aos) historiadoras(es) sensíveis a esse debate promover esse enfrentamento. Este texto se propõe a elucidar algumas questões no que se refere à relação entre gênero, raça e História, a partir do pensamento defendido pela historiadora Joan Scott, intelectual feminista, preocupada em esclarecer essa relação.
Costuma-se pensar a História como instrumento de conhecimento  da realidade humana, uma narrativa cuja função é explicar as sociedades a partir de modelos de diferentes matrizes (CARDOSO & VAINFAS, 1997:441-449). Ao concebê-la dessa forma, passa-se a impressão que a realidade, isto é, acontecimento passado ou presente, é algo que possa ser apreendido, traduzido e transmitido por esta ciência.
Porém,  há  quem  questione  esta  concepção  de  História  e  faça  crítica  à  noção  de  fato  histórico  aí empregada;Jacques Le Goff é um deles. Segundo Le Goff  “não há realidade histórica acabada, que entregaria por si própria ao historiador”, assim, o historiador como todo homem de ciência, “diante da imensa e confusa realidade faz sua opção” e constrói sua explicação do passado (LE GOFF, 2005: 42). Logo, é o historiador, que, diante dos diversos materiais deixados pelo passado, de testemunhos que procuraram guardar o sentido de cada momento e de cada experiência vivenciada pelos sujeitos históricos, escolhe aqueles que terão direito a aparecer; é  ele  quem  seleciona,  recorta  e  faz  aparecer  os  discursos  que  terão  a  oportunidade  de  se  apresentar  enquanto conhecimento histórico de uma época e lugar. Foucault, refletindo sobre esse deslocamento da concepção desta área do conhecimento, afirma:
A história mudou sua posição acerca do documento: ela considera como sua tarefa primordial, não  interpretá-lo,  não  determinar  se  diz  a  verdade nem  qual  é  seu  valor  expressivo,  mas  sim trabalhá-lo no interior e elaborá-lo: ela o organiza, recorta, distribui, ordena e reparte em níveis, estabelece  séries,  distingue  o  que  é  pertinente  do  que  não  é,  identifica  elementos,  define unidades, descreve relações (FOUCAULT, 2007: 7).
Comungando  com  este  debate,  Joan  Scott,  professora  de  Ciências  Sociais  no  Instituto  de  Estudos Avançados  em  Princeton,  historiadora  e  militante  feminista  norte-americana,  defende  a  idéia  de  que  o  conhecimento histórico não é só um simples registro das mudanças nas organizações sociais ao longo do tempo,  mas também, um instrumento que participa da produção do saber sobre estas organizações. Sua reflexão tem se voltado, principalmente, no sentido de perceber como esta área do conhecimento tem participado na produção do saber  sobre  a  diferença  sexual.  Para ela  a  “História é  tanto  objeto  da  atenção  analítica  quanto  um  método  de análise. Vista em  conjunto  desses  dois  ângulos,  ela  oferece um  modo  de  compreensão  e  uma  contribuição  ao processo através do qual gênero é produzido” (SCOTT, 1994: 13-14).
Fica  evidente,  diante  desta  perspectiva,  que  o  conhecimento  histórico  não  é  o  documento  fiel  da realidade vivida, logo, não documenta as reais e únicas condições vivenciadas por homens e mulheres ao longo do tempo, ela sim, oferece um modo de compreensão e uma contribuição ao processo através do qual gênero é produzido. Desse modo pretendo aqui abarcar uma visão acerca da condição social da mulher negra na obra Amada de Toni Morrison, que traça heranças culturais da raça negra, o desconforto da prisão expressiva e o bloqueio do convívio social nos Estados Unidos. Acredito que o texto ajudará a entender o surgimento de uma nova perspectiva ideológica no solo norte-americano, através da literatura de autoria feminina negra.
É nesta acepção de abatimentos de forças que ocasionam nas narrativas das mulheres negras, fortes repercussões, até mesmo, porque suas produções são vinculadas ao passado histórico, dos princípios que tiranizavam. Mintz  & Richard, (1992: 133) chama atenção referente ao passado
O passado deve ser visto como a circunstância condicionadora do presente. Não cremos que o presente possa ser “compreendido” – no sentido de se explicarem as relações entre diferentes formas institucionais contemporâneas – sem referência ao passado.
O passado é a base para entender o presente, a visão ideológica da literatura feita por escritoras negras expressa essas circunstâncias, lança no público alvo reflexões sobre o que elas eram, o que são hoje e o que pode ser amanhã. Isso funciona como uma tática para travar na arena o combate contra os sistemas de regras raciais. Mesmo depois da  abolição da escravatura, os negros nos Estados Unidos eram obrigados a obedecer a diversas leis, eram proibidos de entrarem em algumas lojas, restaurantes e bairros. Inúmeras eram as formas de discriminações.

As idéias feministas ganham espaço nos Estados Unidos a partir dos anos 60 com os movimentos em prol dos direitos civis, tais mobilizações deram suporte para desenvolver nas escritoras negras a consciência crítica em demonstrar as suas visões políticas - culturais entre o meio militante e os centros acadêmicos, com o intuito de serem auto-reconhecidas, colocaram-se como sujeitos militantes, disputando o poder de construção de imagens e narrativas auto-representativas, problematizando papéis que exerceram na vida social, para assim constituir o perfil de suas próprias feições sociais e culturais, que foram demonstradas no universo literário. Warhol & Price, (1991) argumentam o modelo destas representatividades:
O que as escritoras negras tem consistentemente à nos mostrar são formas de rendição da mulher negra até os dias de hoje, bem como o lugar que elas ocupam no mundo em que vivem e a forma como elas definem seus impulsos e ações frente a opressão e o medo.(1991:249).
Este modelo de escrita das negras de auto se retratarem é uma arma para atacar as classes superiores, o governo e principalmente abolir a política racista, cujos paradigmas literários são a representatividade de um único caminho eficiente para assegurar o desenvolvimento de uma cultura que foi aterrorizada e escravizada por séculos. No caso das mulheres negras, por serem inseridas em uma sociedade racista, machista e socialmente hierarquizada, não havia outros espaços, a não ser, viver escanteada em seus lares, por sua vez, esta sufocação vai contribuir para a produção de escritas autobiográficas, libertando-as desse abafamento e desabafando o seu imaginário. Essa especificidade peculiar da arte feminina traz à tona a sua visão de mundo partindo do universo interior, descobrindo o que havia por traz dessa condição feminina, no intuito de dar luz libertadora a cruel opressão vivenciada por estas mulheres.
A construção da narrativa das vidas dos personagens em Amada acontece de forma não linear, não tem pontos firmes de espaço e tempo, há a presença de diferentes vozes que compõe fragmentos de memória, histórias vivenciadas e recontadas algum tempo depois. Constroem e reconstroem acontecimentos do passado com pontos obscuros e incompreensíveis nos fatos das trajetórias das pessoas.
O tecido textual em Amada inicia-se no ano de 1873 em Cincinnati, Ohio, onde a mãe, Sethe, uma das protagonistas do romance foi escrava e no tempo presente da história, vive com a sua filha caçula de 18 anos, Denver, em uma casa completamente assustadora e perturbada, a 124 Bluestone Road.  Os outros dois filhos de Sethe, que se chamam Howard e Buglar, fugiram com medo do fantasma que assombra a casa. A filha mais nova, Denver, adora o fantasma, pois como a maioria das pessoas, acredita que é o espírito da sua irmã mais velha. A mãe, Sethe era escravizada na Sweet Plantation, local onde se via todo tipo de maltrato, massacre, estupro castigos onde os escravos viviam em condições sub-humanas. Sethe grávida de Denver fugiu deste inferno, já cansada com os pés maltratados todos feridos não agüentava mais andar, por sorte uma menina ruiva, Amy, encontra Sethe na floresta tentando atravessar o rio para chegar à casa de Baby Suggs, sua sogra, Amy  a garota branca ao ver a situação dos pés inchados de Sethe causada pela fuga compara com os pés de um cadáver afogado em um rio, e diz: “Olhe só. Uma preta cada uma que agente vê”. E encontra nas costas de Sethe as  profundas cicatrizes no formato de uma laranjeira, Dizendo:”Você é a coisa mais horrorosa que já vi”.  Por conseguinte, Sethe sente dores fortíssima na barriga chegou o momento de dá a luz a filha que estar por vim. A garota vendo todo o sofrimento daquela escrava ajuda no parto de Denver. Com o sucesso do parto e da dificultosa fuga, chegou Stamp Paid, dono do barco que ajuda Sethe chegar até a casa da sogra Baby Suggs. A fuga e o nascimento de Denver são descrito muitas vezes sendo apresentado de formas distintas, mas reformulam um mesmo fato. Primeira versão é uma lembrança de Denver, pois esta é a história que ela mais gostava do passado da mãe. Depois Sethe conta para Paul D,fornecendo novas informações e opiniões pessoais.Denver mais tarde narra o acontecimento para Beloved de forma mais detalhada. Após a fuga e o nascimento de Denver Sethe passa 28 dias de contente tranqüilidade encontrando os três filhos e se recuperando da fuga e do nascimento de Denver. No entanto, o atual senhor da Sweet Plantation, schoolteacher, a encontra e quer levá-la de volta. Para evitar a escravidão de seus filhos, Sethe resolve matá-los, porém, somente a filha mais velha é assassinada. Prefere vê os filhos mortos do que vê –los sendo escravos.  Essas histórias eram contadas na narrativa de maneiras desconexa, o enredo não é composto por eventos que acontecem enquanto são narrados; ele é realizado por imagens da memória de diferentes personagens, que se juntam para retratar um passado que eles não desejam guardar,mas que não conseguem apagar. Dezoito anos, se passaram e uma misteriosa mulher aparece na 124 Bluestone Road, chamada Beloved – nome escrito no túmulo da filha -, e passa a viver com Seth, Denver e Paul D. A personagem transforma a vida  da família ao desenvolver uma admiração obsessiva por Sethe, que se sente culpada pelo infanticídio cometido anos antes e as lembranças de um passado que sempre tentou esquecer. A narrativa de Amada é contada no presente por um narrador em terceira pessoa. Quando o narrador intercala os flashbacks contados pelos personagens, a narrativa passa a ser em primeira pessoa. Os relatos e lembranças do passado na fazenda Sweet Plantation e a violência da escravidão são revelados aos poucos e de forma dolorosa pelos personagens.

[...] lá estava a Sweet Home rolando, rolando diante de seus olhos, e, embora não houvesse uma única folha naquela fazenda que não lhe desse ganas de gritar, Sweet Home desenrolava-se diante dela numa beleza desavergonhada. Nunca parecia tão terrível como de fato era, o que fazia Sethe se perguntar se o inferno não seria um lugar bonito também. (Morrison, 1987:14 -15)
As lembranças, aos poucos eram revividas, de forma completamente árdua, relembrar fatos passados é viver para esse cenário, que dificilmente será apagado de suas mentes, Portanto, a Sweet Home era vista por todos que passavam por lá como um local massacrante.
As principais características dos ideais feministas é a forma como as escritoras negras envolveram-se no seu peculiar papel de auto-representação, com intuito de causar reflexão no público e fazer com que entendam a sua posição ideológica. Em Amada, Toni Morrison usa a literatura para expressar a consciência da sua raça na cultura americana e levar o leitor a examinar minuciosamente assiduidade do apreço opressivo incorporada na condição da mulher negra. A opressão sofrida pelas negras revela uma visão de crueldade e desrespeito pelo o ser humano. Podemos concluir que a obra Amada(1987) investiga o binômio paradoxal da criação e destruição, união e separação potencialmente inerente na relação mãe/filha, através da narrativa literária.
A narrativa:
Elaborando mitos, a autora lança sua mensagem simbólica no inconsciente coletivo dos leitores e manifesta a sua persistente negativa de ser convencional. ‘Empoando o mito’,  ela  examina  e  desenvolve  as  tensões  entre  os  mitos  ocidentais  e  os  outros  mitos  para analisar a contraditória realidade da sociedade americana. As realizações de intertextualidade e intratextualidade entre os mitos são um pretexto a experimentação narrativa. O exagero implícito no fato mítico gera uma linguagem excessiva, redundante, hiperbólica. O discurso narrativo leva a vida  ao  inevitável  conflito  causado  pela  colisão  da  ambição  com  a  realidade  freqüentemente opressiva na qual se debatem os personagens para dar um senso à própria existência. É esta luta, a natureza essencial no discurso narrativo da Morrison, que se faz veiculo no ímpeto poético contra a vulgaridade ou quiçá, do ímpeto poético no vulgarismo, como meio de auto criação, e não de mera sobrevivência; mas sim de vida. Trata-se de um desafio aberto, profundamente, radicado na cultura afro-americana. Ainda sobre o seu discurso é fundado no implacável jogo da inversão e da extensão semântica, onde as palavras e seus possíveis significados ressaltam continuidade ao longo  do  percurso  contrariamente  irônico,  contradição  absurda,  conflito  grotesco,  paradoxo, oximoro . É um discurso cuja referência continua à especificidade cultural e étnica da escritora, fazendo-se paradigmático. Isto vale para sua íntegra qualidade – com a intenção entre oralidade e escrita  que  se  deriva-  pelo  estilo  preponderantemente  elíptico  de  narrar,  e  ainda  do  seu  ser caracterizado pela interação das múltiplas versões da mesma estória com as narrações dos muitos narradores de segundo grau, com extraordinária capacidade de capturar o som da língua afro- americana.  Não  é  sempre  que  a  escolha  no  falar  narrativo  vem  controlada  pela  influência  de Morrison, às vezes parece ao contrário.
A  sedução  ao  texto  vem  fantasiada  da  própria  magia  quando  não  se  sabe  resistir  a tentação implícita em certos virtuosismos, que instigam as exibições acrobáticas: aquela síncope entre  o  auto compadecimento  e  a  antagônica  agressão  ouvinte/leitor  e  o  narrador  potencial  e antagonista [típico arquétipo do narrar afro-americano onde o falante aventura-se no paroxístico desafio de superar-se sempre e ainda ao próprio adversário.
Dessa forma,  avaliando  a  importância  da “ história  das  mulheres”,  não  desprezando,  mas  também  não supervalorizando  tais  estudos,  a  historiadora Joan Scott,  faz  um  balanço  dos  avanços  que  ela  possibilitou,  sem  perder  de vista seus limites, pois, seu “desafio subversivo” ficou aparentemente contido em uma esfera separada que ela mesma criou. Sente-se a necessidade de ir adiante, e urgência em discutir questões mais profundas, Scott chama atenção  que  somente  seguindo  pelo  caminho  que  a  “história  das  mulheres”  havia  aberto  não  seria  suficiente. Portanto, é na  busca em aprofundar  discussões e analisar de modo mais rigoroso o processo de como se dá e porque se reproduz a invisibilidade da mulher no processo de produção do conhecimento histórico, que surge o conceito de “gênero como categoria útil de análise”. O conhecimento histórico, segundo Scott, é parte da política de sistema de gênero. O discurso histórico, por  exemplo,  quando  nega  visibilidade  às  mulheres  perpetua  também  sua  subordinação  e  sua  imagem  de receptora  passiva  da  ação dos  demais sujeitos  da História (SCOTT, 1994:50). Cabe,  portanto,  a história, a literatura e demais  áreas  do saber perceberem o quão é importante  produzirem, alertarem sobre as diferenças sexuais de opressão, fazendo deste campo  parte de uma “política” de representação de gênero  buscando encontrar respostas sobre a invisibilidade das mulheres negras. Todavia restam algumas lacunas: Quais arranjos contribuíram(em) para a construção, manutenção e questionamento de gênero ao longo do tempo?

Considerações Finais
Essas  são  algumas  das  questões  que  pedem  respostas  e  ao  respondê-las  se  está  aos  poucos  fazendo emergir uma História que oferece novas perspectivas às velhas questões; redefine antigas questões em termos novos; torna as mulheres visíveis como participantes ativas; estabelece uma distância analítica entre a linguagem aparentemente  fixada  do  passado  e  nossa  própria terminologia  e  por último,  mas  não  menos  importante, abre possibilidades para reflexão sobre as estratégias políticas feministas atuais e futuras, já que sugere que gênero tem  que  ser  redefinido  em  conjunção  com  uma  visão  de  igualdade  política  e  social,  incluindo  além  do  sexo, classe e raça (SCOTT, 1994: 17-18). As experiências das mulheres negras escravizadas devem ser levadas em conta na hora de se escrever a história da escravidão e do próprio país, pois o conhecimento das suas experiências, suas estratégias de sobrevivência e de mobilidade social, não apenas permite que a história das mulheres seja vislumbrada por um prisma mais amplo e, portanto, mais próximo da realidade, como torna possível uma revisão crítica de toda escrita histórica.O objetivo deste trabalho é, portanto, iniciar uma investigação sobre em que medida a condição social feminina e negra se diferia das outras categorias sociais.
É  esse  o  desafio  que  o  conceito  de  gênero  coloca  para  a  História;  é  esta  a  tarefa  que  esta  área  do conhecimento deve empreender, para desse modo ser um instrumento útil na construção de uma sociedade com relações mais eqüitativas no que se refere a mulheres negras e homens, sujeitos históricos de igual valor no processo de constituição das sociedades.


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