ESFERA NOOLÓGICA - TRANSDISCIPLINARIDADE

Walter Ude e Gildo Scalco
Redes Sociais_Conhecimento não Linear_Geografia Cultural_Lazer
"A experiência é uma escola onde são caras as lições, mas em nenhuma outra os tolos podem aprender".
O foco na sociedade atual deve se dar pela participação em todos os tempos sociais.

Por que Geografia Cultural e Lazer?

Lagoa do Morro Alto
Praça JK - Centro de Vespasiano
 Se as diversas manifestações do lazer são alvos passíveis, de investigação, para um amplo leque de disciplinas, cabe aos geógrafos também, abrir, uma investigação ampla e minuciosa, da contribuição desta ciência espacial, para os estudos do lazer. Parece então, indubitável que, para legitimar, a consolidação desse estudo, será necessário, ampliar, as investigações a cerca, da Geografia Cultural, sob a ótica, do Professor Paul Claval, que trata das relações entre cultura e a vida social, aborda “aspectos das regras de conduta, enfatiza, o papel mediador da cultura e do bem estar,” na relação do indivíduo com a sociedade, e as articulações possíveis de garantia,  junto ao poder. Sob essa óptica culturalista, portanto, neste contexto de produção, reprodução e ressignificação da sociedade, que busco evidenciar formas, e olhares, para compreender como, os deslocamentos populacionais realizados pelo governo, são capazes de criar/recriar singularidades, encontros e desencontros, certezas e incertezas, conhecimentos e desconhecimentos, diferenças e indiferenças.


Uma análise da reportagem de Carlos Amorim

A reportagem de Carlos Amorim revela o que realmente é o Comando Vermelho: um filhote da ditadura militar. Criado na cadeia onde  a repressão jogou, juntos, presos políticos e comuns, cresceu no vazio político e social ao qual o capitalismo selvagem relegou a grande massa, o povo das favelas, da periferia. Filho da perversa distribuição de renda, da falta de canais de participação política para esse povo massacrado, o  Comando Vermelho pôde parodiar impunemente as organizações de esquerda da luta armada, seu jargão, suas táticas de guerrilha urbana, sua rígida linha de comando. E o que é pior: com sucesso.Comando Vermelho não é um caso de polícia. É um câncer político. Mas não um tumor que se extirpe. A omissão, incompetência e interesse dos políticos que governam e governaram o Rio - como documenta o autor - deixaram o tumor virar metástase, enraizado em todo o tecido social. Pois não só os favelados sustentam não só o CV, como todas as outras facções. Também os filhos da classe média e os yuppies que consomem drogas dão seu sangue para alimentar o câncer. Partindo do pressuposto que, fazer parte destas organizações, garante parte dos direitos fundamentais, previstos na Constituição de 88, tais como: saúde, alimentação, segurança e LAZER, essa, população favelada, não deve ser considerada como, vagabundos, o trabalho desenvolvido por eles os Pobres do Lugar[1], constituiu tarefa árdua.
Selecionei para análise desta afirmação, o trecho abaixo, retirado das entrevistas em minha área de estudo:
Hierarquia e Estilo (...) camiseta estampada. Usa o inevitável boné, símbolo  de ascensão na hierarquia dos morros. Porque M.W, não empina mais a pipa dos olheiros. É "avião". Na linguagem do crime: "ultraleve", menino-traficante. Entrega pequenas quantidades de cocaína aos viciados. O “salário melhorou bastante - chega a R$ 600,00 mensais - e não é preciso sair do Morro.”(2009)
  Em outro estudo, tive a oportunidade de analisar mais detidamente o que afirma, o historiador inglês Edward Palmer Thompson[1] “A semana se divide entre Tempo Pessoal e o Tempo Destinado ao Patrão”, daqui emerge uma potencial vivência dos lugares e das cidades. Um conjunto de experiências delineadas a partir do século XVIII, esboçado no contexto da Revolução Industrial, que nos remete a construção da idéia de Nação, momento “de construção do ideário e um imaginário que rompia com o passado”.  
Seus artigos versam, em grande parte, sobre as histórias do trabalho e da cultura, sempre no âmbito das questões sociais.
O historiador mantém seu ponto de vista centrado na classe trabalhadora, argumentando que a trajetória dessa camada da população não é empreendida apenas no sentido econômico, mas principalmente na edificação de suas vivências históricas. A esse respeito parece-nos muito pertinente, afirmar que, não há poder sem imagem, sem um tempo, sem um lugar, os criminosos evoluíram, aprendeu a se organizar, estão inclusive no comando político. São uma grave ameaça à ordem pública. E o que vem por aí, no futuro? Combatê-los pressupõe: primeiro, conhecer sua história, criar propostas políticas que dêem uma alternativa concreta às populações faveladas que viraram massa de manobra do CV, ou de qualquer outro espaço geográfico no Brasil onde o povo no qual o crime organizado se enraizou. É triste ver que, tanto na recente campanha para a Prefeitura quanto na campanha para o Governo estadual e Presidência da República que se anuncia, os candidatos e partidos carecem de propostas reais que mobilizem essas comunidades. Promessas vazias e demagogia não arranham o poder do CV. E os políticos continuam a barganhar votos em alianças secretas com os traficantes. Em breve teremos as bancadas do Comando Vermelho e tantas outras Facções. Se nada mudar, logo todos esses líderes se tornarão tão "legítimos" e "populares" quanto seus aliados, os bicheiros. Pode ser até que, no vazio deixado pela prisão da cúpula do bicho, essas organizações do Crak” espalhe ainda mais os seus tentáculos. Em vez de desfilar clandestinos, nas baterias e alas, seus chefes subirão aos carros e camarotes na Avenida. E o sistema os absorverá, nas parcerias do poder. 

"Não preciso mais de pistoleiros. Agora eu quero deputados e senadores."
(Frase atribuída a "Big" Paul Castelano, o homem que por mais de vinte anos chefiou a família Gambino, uma das mais importantes da Máfia em Nova York. Ele morreu num atentadoa tiros durante uma guerra entre as quadrilhas da Cosa Nostra.)

 O objetivo deste artigo, deste blog, como também do meu trabalho atualmente, é revelar os bastidores; descortinar estratégias preconceituosas do poder público, me valendo de pesquisas, locais, e criando uma interdisciplinaridade entre, Geografia Cultural e Lazer. Sob essa óptica culturalista, portanto, neste contexto de produção, reprodução e ressignificação da sociedade, que busco evidenciar formas, e olhares, para compreender como, os deslocamentos populacionais  realizados pelo governo,  são capazes de criar/recriar  singularidades, encontros e desencontros, certezas e incertezas, conhecimentos e desconhecimentos, diferenças e indiferenças.  Revelando alteridade, demarcando uma tensão histórico-social a trajetória desses deslocamentos, constituídos por processos, de territorialidade, desterritorialidade  envolvendo além  de  dimensões geográficas e sociais, dimensões psicossociais, devem ser analisadas com cautela, respeito priorizando a participação dos envolvidos, em todos os tempos sociais.



[1] VIANA,I.F(2010).CONTRIBUIÇÕES DA  GEOGRAFIA  CULTURAL  PARA O  LAZER    EM UM BAIRRO SEGREGADO: CIRCUITOS ESTRATÉGICOS, DESTINADOS AOS  “Pobres do Lugar”: Estudo de caso Conjunto Morro Alto - Vespasiano/MG. Uma análise do CV