Reduzir preconceito de gênero não é tarefa fácil para Dilma

NEGRIARA

Por Marcelo Semer

Dia primeiro de janeiro de 2011, o país assistiu a cena até então inédita: uma mulher recebendo a faixa de presidente da República e passando em revista as tropas militares.
Enquanto o Brasil parava para ouvir o discurso de Dilma, parte dos twitteiros que acompanhavam plugados à cerimônia, se deliciava fazendo comentários irônicos e maldosos sobre a primeira vice-dama, Marcela Temer.
Loira, jovem e ex-miss, a esposa de Michel Temer virou imediatamente um trending topic. Foi chamada de paquita, diminuída a seus atributos físicos e acusada de dar o golpe do baú no marido poderoso e provecto. Tudo baseado na consolidação de um enorme estereótipo: diante da diferença de idade que supera quatro décadas e uma distância descomunal de poder, influência e cultura, só poderia mesmo haver interesses.
Essa é uma pequena mostra do quanto Dilma deve sofrer para romper as barreiras atávicas do preconceito de gênero, ainda impregnadas na sociedade. Se não fosse justamente pela superação dos estereótipos, aliás, Dilma jamais teria chegado aonde chegou.
Mulher. Divorciada. Guerrilheira. Ex-prisioneira. Quem diria que seria eleita para ser a chefe das Forças Armadas? Superar estereótipos é o primeiro passo para romper preconceitos. O exemplo de Lula mostrou, todavia, como sua tarefa não será fácil. O país aprendeu a conviver com a sapiência de um iletrado retirante, mas os preconceitos regionais e o ódio de classe não se esvaziaram tão facilmente.
A avalanche das "mensagens assassinas", twitteiros implorando por um "atirador de elite" na posse, só comprova o resultado alcançado pelo terrorismo eleitoral. Dilma sabe dos obstáculos a vencer e é por este motivo que iniciou seu discurso enfatizando o caráter histórico do momento que o país vivia, fazendo-se de exemplo para "que todas as mulheres brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher".
Em dois discursos recheados de assertivas e recados, não faltou uma lembrança emocionada a seus companheiros de luta contra a ditadura, que tombaram pelo caminho. Mais tarde, receberia pessoalmente suas ex-colegas de prisão. Não esqueceu das "adversidades mais extremas infligidas a quem teve a ousadia de enfrentar o arbítrio". Não se arrependeu da luta, justificando-se nas palavras de Guimarães Rosa: a vida sempre nos cobra coragem. Mas, mulher, adverte Dilma, não é só coragem, é também carinho.
É essa mulher, misto de coragem e carinho, que seu exemplo espera libertar do jugo de uma perene discriminação. Discriminação que torna desiguais as oportunidades do mercado de trabalho, que funda a ideia de submissão, e que avoluma diariamente vítimas de violência doméstica, encontradas nos registros de agressões corriqueiras e no longo histórico de crimes ditos passionais, movidos na verdade por demonstrações explícitas de poder, orgulho e vaidade masculinas.
Temos um longo caminho pela frente na construção da igualdade de gênero. Nossos tribunais de justiça são predominantemente masculinos, porque os cargos de juiz foram explícita ou implicitamente interditados às mulheres durante décadas. Houve quem justificasse o fato com as intempéries da menstruação e quem estipulasse que professora era o limite máximo para a vida profissional da mulher. Nas guerras ou ditaduras, as mulheres além dos suplícios dos derrotados, ainda sofrem com freqüência violências sexuais, que simbolicamente representam a submissão que a vitória militar quer afirmar.
Mulheres são maioria nas visitas semanais de presos. Mas quando elas próprias são encarceradas, as filas nas penitenciárias se esvaziam. Com muito sofrimento e demora, sua luta é para garantir os direitos já conferidos a presos homens. Sem esquecer as incontáveis mulheres de triplas jornadas, discriminadas pela condição quase servil de dona de casa, que se obrigam a cumular com suas tarefas profissionais e maternas.
Que a posse de Dilma ilumine esse horizonte ainda lúgubre de preconceito, no qual os estereótipos da mulher burra, submissa e instável, predominam na sociedade. E que, enfim, possamos aprender, com as mulheres, a respeitar sua igualdade e suas diferenças. Pois, como ensina Boaventura de Sousa Santos, elas, mais do que ninguém podem dizer: "Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza. Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza". Façamos, assim, de 2011, um ano mulher.
*Siga @marcelo_semer no Twitter Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo .

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FILME: Entre a luz e a sombra

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Não é tarefa fácil assistir Entre a luz e a sombra, pelo menos não da maneira que deve ser visto. Em primeiro lugar porque, logo de cara, o filme, cujo tema é o futuro (ou não-futuro) de pessoas que entraram na vida do crime, parece ter vindo ao mundo na época errada. O longa trata de figuras reais que, no começo da década, eram presenças fáceis em programas de televisão de domingo (os rappers Afro-X e Dexter, do grupo 509-E, que passaram a ter espaço garantido no ano 2000, após vir à tona o namoro de Afro com a cantora Simony, ex-Turma do Balão Mágico) e hoje sumiram. No caso de Afro-X, nem tanto, já que ainda conseguiu ficar relegado ao gueto do rap paulista. Na verdade, a personagem principal do filme é a atriz Sophia Bisilliat, responsável pelo projeto Talentos Encarcerados, que ensinava arte aos presos do hoje extinto complexo prisional do Carandiru, desde os anos 80. A dupla de rappers cruza seu caminho durante seus trabalhos voluntários na prisão. E o entrecortar das trajetórias é mostrado desde o começo, no início da década, quando Afro e Dexter faziam um rap chocho, decalcado dos Racionais MCs (de quem chegaram a roubar o verso "apoiado por mais de 50 mil manos", que nas mãos da dupla iniciante reduziu-se para 5 mil). E passa pelo crucial momento em que a determinada Sophia vira empresária da dupla e mulher de Dexter, que ainda cumpria pena.
Segundo, porque, ainda que não seja a intenção do filme, a narrativa (e, vá lá, não tinha outro jeito, já que é quase tudo calcado em depoimentos) sofre com todos os clichês da cultura "de periferia" dos últimos dez anos. Cultura essa que inclui o bom e velho blá-blá-blá criminalizador da pobreza (que, muitas vezes, acaba sendo proferido mais pelos próprios, vá lá, bandidos do que pelos policiais, e no caso de Entre a luz... não é diferente), a apologia do rap à moda de Eduardo Suplicy, a síndrome de "menino branco" (como no primeiro verso de Mais do mesmo, da Legião Urbana, que Renato Russo copiou sem piedade de Waiting for the man, crônica dos guetos do Velvet Underground) e a sensação de que é preciso fazer alguma coisa, ainda que não se saiba exatamente que coisa é essa que deve ser feita. Tudo isso, direta ou indiretamente, está lá. Do meio para o fim do longa, a sombra da ingenuidade vai desaparecendo, embora haja o risco de Entre a luz e a sombra, injustamente, acabar sendo visto como apenas um filme sobre pobreza e violência que ainda usa os mesmos apaixonados chavões da década de 90 para falar de tais assuntos. Na verdade, se trata de um documentário que, a partir das intenções iniciais, flagrou um entrelace de projetos de vida que nem o mais criativo teledramaturgo poderia imaginar - e se aproveitou disso.
Sem a intenção de dramatizar ou romantizar demais, Entre a luz e a sombra ainda tem um recheio extra, que é o enfoque na relação de Sophia e Dexter - marcada por momentos em que a condição de presidiário deste último parece nem existir, e por outros em que, mais que o peso do encarceramento, é o estilo malvadeza-durão do rapper (intensificado após os primeiros shows do 509-E, feitos sob autorização judicial conseguida pela própria Sophia) que põe tudo a perder. Um grande atrativo é o fato do filme ser feito por uma equipe-do-eu-sozinho (a) - a jornalista Luciana Burlamaqui, que começou o documentário a partir de suas pesquisas sobre violência, dirige, faz o roteiro e grava imagem e áudio, além de produzir, só pecando por deixar o filme muito extenso, com longos instantes de silêncio. Para fãs de rap, ainda há outra cereja no bolo: uma rara aparição de Mano Brown, dos Racionais, por alguns segundos, despedindo-se dos amigos Afro-X e Dexter quando a dupla deixa o local de um show sob a custódia de policiais. No mais, assista com tempo de sobra e disposição para refletir.
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Filmes brasileiros sobre crime, violência e polícia

O cinema nacional, entre 1958 e 2008, apresenta 50 anos de uma visão aguçada sobre a sociedade brasileira, a persistência da violência, da desigualdade social e das fragilidades das instituições da segurança pública. Obras autorais, que ficcionalizam fatos concretos, apresentam uma linguagem documentária como se estivessem fazendo um retrato sociológico destas questões no país. Os documentários acabam sendo uma espécie de glosa do que se produz na cinematografia desde clássicos como o Assalto ao Trem Pagador (1962).
No período, o Brasil passou de uma sociedade fortemente rural para uma sociedade quase que integralmente urbana. O país passou por um acentuado crescimento populacional, de 60 milhões para quase 190 milhões de habitantes.
 
Os níveis de escolaridade aumentaram, os níveis de acesso aos serviços mais fundamentais aumentaram, houve uma mudança significativa na composição da população, incluindo nessa mudança o aumento do conhecimento sobre direitos.
Afinal, nesse período, o país passou por uma terrível ditadura e por uma redemocratização sofrível, mergulhada numa crise econômica de grandes proporções, com a promulgação de uma nova carta constitucional que ampliou de forma importante o repertório dos direitos de cidadania. Nesse período, o legado pesado do Estado Novo foi sendo deixado para trás em prol de um estado neo-liberal, com redução de várias garantias de ordem trabalhista. As cidades cresceram e começou um modesto mas decidido processo de interiorização do desenvolvimento econômico. Várias instituições foram reformadas e houve um crescimento do acesso popular à justiça com a criação de juizados especiais e de defensorias públicas. As polícias passaram a sofrer mais pressões da sociedade civil e alguns mecanismos de controle do uso da força foram sendo ensaiados aqui e ali.
Os filmes indicados pelo projeto Visão Periférica mostram, no entanto, que os problemas da periferia só aumentaram e se agravaram, com a expansão do crime organizado, do consumo de drogas, com a corrupção politica, com as ligações perigosas entre polícia e crime, com as desigualdades sociais, com as condições de ausência de direitos de parte importante da população brasileira, que vive à margem do Estado de Direito, com a persistência de um gigantesco fosso entre o país das elites e das classes médias altas e os demais grupos sociais, que ainda buscam justiça e ficam à mercê dos usos privados de nossas instituições.
Essa realidade é visível, sabemos que existe, nos incomodamos com ela, mas como uma visão periférica, está borrada pela banalidade da violência e das iniquidades sociais.
Confira a seleção e as sinopses dos filmes.
Visite também o site abaixo para uma visão mais ampla da filmografia nacional e detalhes dos filmes.




Os traficantes do crime (1958) de Mario Latini.
O tráfico de drogas da época é corajosamente abordado. Paulo é chefe de uma quadrilha de traficantes. Solange, que devido a seu noivo, um policial encarregado de descobrir como operavam com o tráfico de tóxicos, ter sido assassinado, torna-se uma grande e prestimosa colaboradora da polícia. Hugo, detetive da seção de tóxicos e mistificações, encarregado por seus superiores para descobrir para descobrir os crimes da bem organizada quadrilha de traficantes. Maurício, amigo do detetive Hugo, repórter policial de O Dia, que consegue infiltrar-se, junto com Solange, na quadrilha. Olavo é aliciador de adeptas à cocaína e outros tóxicos.

O Assalto ao Trem Pagador (1962) de Roberto Farias. Roteiro: Roberto Farias. Produção: Herbert Richers. Baseado em fatos, o assalto ao trem de pagamentos do Banco do Brasil ocorrido em 1960, no Rio de Janeiro. Gangue de bandidos liderada pelo temível Tião Medonho organiza e executa um roubo do trem (comboio) de pagamentos. Enquanto a polícia chega a suspeitar de uma quadrilha de bandidos internacionais pela ousadia do plano, os assaltantes se misturam à realidade da pobreza e da violência brasileiras. Filme foca os métodos policiais para desvendar o crime. Um grande clássico.


Cinco vezes favela (1962) de Marcos Farias (Ep.1), Miguel Borges (Ep.2), Carlos Diegues (Ep.3), Joaquim Pedro de Andrade (Ep.4) e Leon Hirszman (Ep.5).
1- "Um favelado": Um favelado, desempregado e sem dinheiro, arquiteta um plano para ganhar dinheiro, mas é descoberto e preso pela polícia. 2- "Zé da cachorra": Um latifundiário quer de volta suas terras, onde está instalada uma favela. Um favelado luta contra a passividade de uma comissão de moradores, que estão aceitando a situação desfavorável que lhes foi imposta. 3- "Escola de Samba Alegria de Viver": Um favelado, presidente do grêmio recreativo, divide-se entre lutar pela sua categoria ou aceitar as imposições comerciais do carnaval. 4- "Couro de gato": Moradores favelados caçam gatos a fim de usar seu couro para fabricar tamborins, que serão usados no carnaval. 5- "Pedreira de São Diogo": No Rio de Janeiro, sobre uma pedreira há uma favela. Ao perceberem o risco de desabamento dos barracos, em consequência das explosões de dinamite, os operários incitam os moradores a iniciar movimento de resistência para impedir um acidente fatal.


A Grande cidade (1966) de Carlos Diegues.
Vinda do Nordeste, Luzia chega ao Rio de Janeiro à procura de seu noivo, Jasão. Nessa busca, ela conhece Calunga, um malandro carioca que lhe mostra a cidade e a apresenta para Inácio, um outro nordestino que deseja loucamente voltar para sua terra. Finalmente, Luzia descobre que o noivo Jasão mora em uma favela e que se transformou num temido assaltante. Mas, antes que ela consiga salvá-lo do crime, ambos acabam sendo vítimas dos conflitos e da violência gerados pela grande cidade. Imperdível!

O Caso dos Irmãos Naves (1967), de Luis Sérgio Person. A reconstituição de um caso real, ocorrido no Estado Novo em 1937, na cidade de Araguari (MG). Tudo começa quando um homem foge levando o dinheiro de uma safra de arroz. Os irmãos Naves (Raul Cortez e Juca de Oliveira), sócios do fugitivo, denunciam o caso à polícia. De acusadores passam, no entanto, a réus, por obra, graça e desmando do tenente de polícia (Anselmo Duarte), que dirige a investigação. Presos e torturados, os Naves são obrigados a confessar o crime que não cometeram.

O bandido da luz vermelha (1968) de Rogério Sganzerla.
Baseado livremente na vida do famoso criminoso João Acácio Pereira da Costa. Jorge, um assaltante de casas de luxo em São Paulo, apelidado pela imprensa sensacionalista de "Bandido da Luz Vermelha", desconcerta a polícia com seu comportamento fora do comum. Além de usar uma lanterna vermelha, ele possui as vítimas, conversa com elas e faz fugas ousadas para depois gastar o dinheiro roubado de maneira extravagante. O mundo de Jorge é povoado de tipos como o detetive Cabeção, a protistuta Janete Jane e o político corrupto J. B. Silva. Com sua linguagem visual inovadora, O Bandido da Luz Vermelha pode ser visto como o ponto de transição entre a estética do Cinema Novo e a ruptura do Cinema Marginal.


Dois Perdidos Numa Noite Suja (1970) de Braz Chediak
Tonho e Paco vivem em um pardieiro e trabalham no mercado. Certa vez, Tonho se desentende com outro carregador, que o humilha, do que se aproveita Paco para ridicularizar o companheiro. Ao saber que Tonho tem um revólver, Paco propõe um assalto. Ante a recusa de Tonho, Paco mente-lhe sobre um acordo de conciliação que fizera com o carregador que havia humilhado o primeiro. Diante disso, Tonho acaba concordando. Os dois assaltam um casal, e na divisão do roubo Paco tenta enganar Tonho. Cansado de humilhações, Tonho empunha sua arma contra Paco. Este não se assusta, lembrando que falta munição. Tonho tira uma bala do bolso, carrega a arma e obriga Paco a bancar uma mulher. O desenlace destas vidas marginais será trágico.
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), de Hector Babenco
Pouco antes de morrer, um dos bandidos mais populares do Rio de Janeiro na década de 60 revela a um jornalista um esquema de corrupção envolvendo policiais que combatem o crime às margens da lei: o Esquadrão da Morte. Nessa conjuntura surgem vários episódios e personagens que marcaram uma época. O filme é baseado no livro homônimo de autoria de José Louzeiro.


Barra Pesada (1977) de Reginaldo Faria.
Baseado no livro "Nas quebradas da vida" de Plínio Marcos. Marcado pela violenta infância, jovem embrenha-se na vida do crime. Entre uma trapaça e outra, ele se torna o alvo principal de uma caçada que envolve o submundo do crime e a própria polícia.


A República dos assassinos (1979) de Miguel Faria Jr.
Baseado no Livro homônimo de Aguinaldo Silva. No Rio de Janeiro, na década de 70, um grupo de policiais atua como esquadrão da morte. Este grupo de elite foi criado pelo próprio governador do Estado com o apoio do senador Gilberto Martins. O senador é dono de um jornal que dá enorme cobertura às ações de Matheus, um dos chefes do grupo. Matheus tivera um caso com Marlene Graça, atriz e cantora de cabaré que se sente prejudicada pela má reputação do policial. Com dificuldades para conseguir um papel num filme e desiludida com Matheus, que arranjara outra garota, ela entra para uma seita evangélica. O esquadrão da morte com suas execuções sumárias acaba por levantar forte suspeita de um promotor público, que descobre o envolvimento do grupo com extorsão, narcotráfico, roubo e outros crimes. Em 1970, os crimes do Esquadrão da Morte pelo requinte de violência provocaram uma onda de reações por todo o país. As fotos das vítimas, adornadas pela caveira, símbolo do grupo, causaram uma incômoda indignação. Esta é a história de Mateus Romeiro, o mais famoso dos policiais, que integrou o grupo dos Homens de Aço, uma das facções em que se dividia o esquadrão.


Eu Matei Lúcio Flávio (1979) de Antônio Calmon Jovem, classe média, Mariel Mariscot de Mattos, ganhou fama como policial de atuação no submundo do crime. Seu primeiro trabalho como guarda-vidas na Zona Sul do Rio de Janeiro, abriu-lhe as perspectivas para entrar na Academia de Polícia, onde integrou um grupo de policiais de elite, especializados no combate a bandidos de alta periculosidade. Com as mesmas origens de Mariel, Lúcio Flávio Vilar Lírio, é um jovem em busca de ascensão social. Opta pelo crime. Seu bando tornam-se os mais procurados pela polícia. Lutando em campos opostos, Lúcio e Mariel acabam se defrontando, numa representação individualizada de uma luta global entre polícia e marginais.


Ato de Violência (1980) de Eduardo Escorel.
Baseado em fatos reais, a vida do famoso criminoso paulista Chico Picadinho. Antônio tem bom comportamento, estudando, trabalhando e freqüentando cultos religiosos. Consegue a liberdade condicional e reencontra sua família e amigos em um almoço de boas-vindas. Porém a situação de ex-presidiário o deixa sem emprego. Deixa a mulher, envolve-se com prostitutas, além de fazer dívidas. Antônio encontra-se um dia com seu amigo Manoel e pede para morar com ele. Este aceita por dois dias, o que não acontece, Antônio fica durante algum tempo na casa do amigo até discutirem. Um dia leva uma prostituta para casa. Durante o ato sexual, Antônio comete novo assassinato, e foge.

Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco.
O ator Fernando Ramos da Silva, que seria ele mesmo morto pela polícia em 1987, depois de um breve período de estrelato, dá vida ao drama do menino de rua. Pixote foi abandonado por seus pais e rouba para viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua "educação", pois conviveu com todo o tipo de criminoso e jovens delinqüentes que seguem o mesmo caminho. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos.

A Freira E A Tortura (1983) de Ozualdo Candeias
Baseado na peça O milagre da cela, de Jorge Andrade. Enquanto persegue um marginal, o delegado, homem de princípios e bem casado, conhece uma professora acusada de crimes políticos. Acaba por prendê-la. Descobre que a professora é também freira e passa a torturá-la para conseguir as informações que deseja. Os dois se apaixonam violentamente. O delegado acaba sendo assassinado por bandidos numa emboscada. A freira comparece ao enterro para dar o último adeus ao seu amado.


Memórias do Cárcere (1984) de Nelson Pereira dos Santos.
O roteiro é uma adaptação do livro homônimo de Graciliano Ramos. O filme conta a fase em que Graciliano Ramos, o autor de Vidas Secas, esteve preso durante o Estado Novo no Brasil. A história retrata a violenta repressão política na Era Vargas pela ótica de Graciliano Ramos, protagonizado por Carlos Vereza, que é encarcerado na ilha Grande, como preso político. Incerto em relação ao futuro, relata seus dias em clausura e a precariedade da condição de encarcerado. Participaram ainda do elenco: Glória Pires, José Dumont, Nildo Parente, Wilson Grey, Tonico Pereira, Jorge Cherques, Jofre Soares, Fabio Barreto e Marcos Vinícius.


Anjos do Arrabalde (1986) de Carlos Reichenbach. O filme conta a história e o cotidiano de três professoras na periferia de São Paulo. Carmo abandona o magistério por pressão do marido machista; Dália sustenta irmão viciado e é vítima de preconceito por causa de sua vida sexual e pelo romance com um homem casado; Rosa está desiludida da profissão. Há ainda a história da amiga Aninha, a manicure, e suas tragédias. Todas convivem com a pobreza local, a violência e o ethos policial de periferia.


Faca de dois gumes (1989) de Murilo Salles
Baseado em novela de Fernando Sabino. Advogado de família ilustre, marido apaixonado, é traído por sua bela mulher, amante de seu sócio e melhor amigo. Planeja, então, um crime perfeito, articulando meticulosamente todas as peças de sua ação, mas sua atitude passional e fatores imprevisíveis, envolvendo corrupção e o sequestro de seu filho, acabam por levá-lo a se envolver numa série de acontecimentos, que transformam sua vida numa faca de dois gumes, tudo se encaminhando para um final dramático.


O Homem da Capa Preta (1986) de Sérgio Rezende
 
Cinebiografia do polêmico e reacionário político da Baixada Fluminense dos anos 50 e 60, Tenório Cavalcanti, ex-deputado federal que com sua metralhadora, apelidada de Lourdinha, desafiava a corrupção e os poderosos que dominavam o município fluminense de Duque de Caxias. O filme traça o panorama político do Rio de Janeiro dos anos 40 a 60.


Navalha na carne (1997) de Neville d'Almeida
Baseada na obra homônima de Plínio Marcos. A primeira versão cinematográfica da peça de Plínio Marcos foi realizada em 1970, com direção de Braz Chediak. O cafetão Vado entra de madrugada no quarto da prostituta Neusa Suely em busca de dinheiro, que descobre ter desaparecido. Para livrar-se das acusações de Vado, Neusa Suely alega que o homossexual Veludo, seu vizinho, furtou o dinheiro. Os três personagens começam então a viver uma pequena tragédia ambientada no submundo carioca.

Os matadores (1997) de Beto Brant.
Em um bar na divisa Brasil-Paraguai, um homem está para ser eliminado. Enquanto esperam o defunto encomendado, dois matadores, Toninho e Alfredão revelam uma história em que é difícil encontrar culpados e inocentes. Presente e passado se misturam em torno da morte de Múcio, o pistoleiro mais competente da região, mostrando que matar ou morrer é uma fronteira fácil de se atravessar. Um chefe, uma bela mulher, um serviço a ser feito. O filme testa os limites da amizade, do medo e da traição. Quem traiu?

Notícias de uma Guerra Particular (1999) de João Moreira Salles e Kátia Lund.
Notícias de um estado permanente de exceção no Rio e no Brasil, em que a violência do crime e da polícia é moeda corrente. Documentário que retrata a vida da comunidade do Morro Dona Marta, Botafogo, RJ. Mostra o resultado da repressão ao tráfico de drogas no morro, apontando o campo de batalha e os principais personagens nessa trama terrível e desigual: os jovens traficantes (tendo como principal personagem o traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, morto em 2003, no complexo penitenciário de Bangu a mando de Fernandinho Beiramar); a comunidade e os policiais. Resultado dessa trama é a alta mortalidade de jovens nos dois lados da batalha e a vida dos moradores sempre no fio da navalha de tiroteios e das ambiguidades de papéis e de valores.
O documentário foi eleito um dos melhores filmes pela Revista de Cinema e venceu a competição de documentário do festival, É Tudo Verdade. Trata-se de um incisivo retrato da violência no Rio de Janeiro. Flagrantes do cotidiano das favelas dominadas pelo tráfico de drogas alternam-se e entrevistas com todos os envolvidos no conflito. A violência disseminada na sociedade e a repessão das instituições da segurança pública são apresentadas sem retoques, fazendo com que essa guerra particular não apresente vencedores, apenas baixas cotidianas e aviltantes.

Cronicamente Inviável (2000) de Sergio Bianchi
As relações entre frequentadores, proprietários e empregados de um prestigiado restaurante de São Paulo são as pedras de toque para descortinar uma ácida visão da crise brasileira. Entram em foco as mais surpreendentes situações de aproximação e conflito entre diferentes raças e classes sociais, de várias regiões do país, revelando, sem qualquer concessão, a impossibilidade de uma cultura nacional homogênea. Desfilam no filme um escritor que realiza um passeio pelo país, buscando compreender os problemas de dominação e opressão social; um garçom que se destaca por sua descendência européia, aspecto físico, boa instrução e insubordinação; uma rica carioca preocupada em manter o mínimo de humanidade na relação com as pessoas de classe mais baixa. A gerente do restaurante, uma pessoa cativante, com um passado encoberto pelas várias histórias que costuma contar para os amigos e os refinados clientes do restaurante.


O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas (2000) de Paulo Caldas e Marcelo Luna.
O documentário retrata as trajetórias dissonantes de dois jovens criados em Camaragibe, na periferia de Recife: um justiceiro por conta própria preso por cerca de 70 assassinatos e o baterista da banda de rap Faces do Subúrbio. O título em si já é curioso, mas, como se verá, o filme não se esgota na mera curiosidade nem faz apologia do pitoresco. "Pequeno Príncipe" não se refere ao livro de Antoine de Sain-Exupéry, aquele que era sempre muito citado nos concursos de misses do Brasil. É o apelido, codinome, ou nome de guerra de Helinho, Hélio José Muniz, "justiceiro" de Camaragibe, no Grande Recife, uma das periferias mais pobres do País. "Alma sebosa" é aquele indivíduo que não presta, que faz mal à comunidade e portanto merece ser despachado desta para a melhor. Tudo isso acontece nesses lugares onde a polícia não entra, o Estado não atua e a sociedade procura (em vão) esquecer. Nessas paragens, "pequenos príncipes" e "almas sebosas" foram feitos uns para os outros.

O Invasor (2001) de Beto Brant. Roteiro: Marçal Aquino, Beto Brant e Renato Ciasca. Baseado em livro de Marçal Aquino. Produção: Renato Ciasca e Bianca Villar. Estevão, Ivan e Gilberto são companheiros desde os tempos de faculdade e sócios de uma construtora de sucesso há mais de 15 anos. O relacionamento entre eles sempre foi muito bom, até que um desentendimento na condução dos negócios faz com que eles entrem em choque, com Estevão, sócio majoritário, ameaçando abandonar a empresa. Acuados, Ivan e Gilberto decidem então contratar Anísio, um matador de aluguel, para assassinar Estevão e, assim, poderem conduzir a construtora do modo como bem entendem. Entretanto, Anísio tem seus próprios planos de ascensão social e aos poucos invade cada vez mais as vidas de Ivan e Gilberto


Bicho de sete cabeças (2001) de Laís Bodanzky. Roteiro: Luís Bolognesi. Produção: Maria Ionescu e Fabiano Gullane.
É baseado no livro auto-biográfico Cantos dos Malditos de Austregésilo Carrano Bueno. Os pais de um jovem descobrem um cigarro de maconha em seu casaco e são aconselhados a internar o filho numa instituição psiquiátrica, onde terá que suportar as agruras de um sistema que lentamente devora suas presas.


Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles Roteiro: Bráulio Mantovani, baseado em romance de Paulo Lins
Produção: Walter Salles.Embalada por uma montagem vertiginosa, a história da evolução do tráfico em Cidade de Deus e das estreitas ligações entre traficantes, moradores e policiais corruptos tornou-se um dos maiores sucessos do cinema nacional. Buscapé é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce em um universo de muita violência. Buscapé vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita.

Ônibus 174 (2002) de José Padilha. Produção: José Padilha e Marcos Prado.
Uma investigação cuidadosa, baseada em imagens de arquivo, entrevistas e documentos oficiais, sobre o seqüestro de um ônibus em plena zona sul do Rio de Janeiro. O incidente, que aconteceu em 12 de junho de 2000, foi filmado e transmitido ao vivo por quatro horas, paralisando o país. No filme a história do seqüestro é contada paralelamente à história de vida do seqüestrador, intercalando imagens da ocorrência policial feitas pela televisão. É revelado como um típico menino de rua carioca transforma-se em bandido e as duas narrativas dialogam, formando um discurso que transcende a ambas e mostrando ao espectador porque o Brasil é um país é tão violento.


Carandiru (2002) de Hector Babenco. Roteiro: Hector Babenco, Fernando Bonassi e Victor Navas.
Baseado em livro de Dráuzio Varela. Produção: Hector Babenco e Flávio R. Tambellini. Baseado no livro "Estação Carandiru", de Drauzio Varella, o filme descreve a trajetória de detentos do então maior presídio da América Latina, hoje implodido. O ápice é o massacre de 1992, quando a Polícia Militar, para conter uma rebelião, matou 111 detentos. A história começa quando o médico resolve fazer um trabalho de prevenção à AIDS na Casa de Detenção de São Paulo. Ali, o médico toma contato com o que, aqui fora, temos até medo de imaginar: violência, superlotação, instalações precárias, falta de assistência médica e jurídica, falta de tudo. O Carandiru, com seus mais de sete mil detentos, merece sua fama de “inferno na terra”. Porém, nosso personagem logo percebe que, mesmo vivendo numa situação limite, os internos não representam figuras demoníacas. Ao contrário, ele testemunha solidariedade, organização e, acima de tudo, uma grande disposição de viver. Não é pouco e é o suficiente para que ele, fascinado, resolva iniciar um trabalho voluntário.

Garotas do ABC (2003) de Carlos Reichenbach
A primeira versão do argumento foi mostrada em Roterdã, Holanda, em 1987. No ABC de São Paulo, região de fábricas têxteis e metalúrgicas, um grupo de operárias vive seu cotidiano de intenso trabalho, sonhos e ilusões. Entre elas, destaca-se Aurélia, operária negra, bela e atrevida, que adora homens fortes e musculosos. Ela namora Fábio, jovem enturmado em um grupo neonazista, liderado pelo jovem advogado Salesiano de Carvalho.


O Prisioneiro da Grade de Ferro (2003) de Paulo Sacramento. Roteiro: Paulo Sacramento. Produção: Gustavo Steinberg. Um ano antes da desativação da Casa de Detenção do Carandiru, um projeto faz com que os detentos aprendam a utilizar câmeras de vídeo e documentem o cotidiano do maior presídio da América Latina. O resultado é magistral porque coloca os presos como narradores de sua própria história, cheia de dor, sofrimento, amargura, inustiças mas também de esperanças. O documentário também registra as condições absurdas que presidiam o cumprimento da pena no complexo penal do mais poderoso estado do Brasil.

O homem do ano (2003) de José Henrique Fonseca. Roteiro: Rubem Fonseca, Patrícia Melo e José Henrique Fonseca.
Uma ingênua aposta entre amigos transforma Máiquel, um homem comum, em um assassino e herói de toda uma cidade. Deixando-se levar pelos acontecimentos, Máiquel torna-se respeitado por bandidos e pela polícia, sendo também amado por duas mulheres. Até que comete seu primeiro erro e é obrigado a tomar de volta o controle do seu destino.


Amarelo Manga (2003) de Cláudio Assis. Roteiro: Hilton Lacerda.Produção: Marcello Maia e Paulo Sacramento. Guiados pela paixão, os personagens de Amarelo manga vão penetrando num universo feito de armadilhas e vinganças, de desejos irrealizáveis, da busca incessante da felicidade. O universo aqui é o da vida-satélite e dos tipos que giram em torno de órbitas próprias, colorindo a vida de um amarelo hepático e pulsante. Não o amarelo do ouro, do brilho e das riquezas, mas o amarelo do embaçamento do dia-a-dia e do envelhecimento das coisas postas. Um amarelo-manga, farto.

Justiça - O Filme. (2004) de Maria Augusta Ramos. Roteiro: Maria Augusta Ramos. Produção: Luís Vidal, Niek Koppen, Jan de Ruiter e Renée Van der Grinten. Documentário mostra um Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro, acompanhando o cotidiano de alguns ersonagens. Há os que trabalham ali diariamente (defensores públicos, juízes, promotores) e os que estão de passagem (réus). câmera é utilizada como um instrumento que enxerga o teatro ocial, as estruturas de poder — ou seja, aquilo que, em geral, os é invisível. O desenho da sala, os corredores do fórum, a disposição das pessoas, o discurso, os códigos, as posturas todos os detalhes visuais e sonoros ganham relevância. O spaço, as pessoas e sua organização são registrados de aneira sóbria. A câmera está sempre posicionada em relação cena mas não se move dramaticamente, não busca a falsa omoção. Sinal de respeito, de não-exploração. No filme, não há entrevistas ou depoimentos, a câmera registra o que se passa diante dela.


O Cárcere e a Rua (2004) de Liliana Sulzbach.
Cláudia, presidiária mais antiga e respeitada da Penitenciária Madre Pelletier, deve deixar o cárcere em breve. Assim como Betânia, que vai para o regime semi-aberto, e ao contrário de Daniela, que recém chegou na prisão e aguarda julgamento. Enquanto Daniela busca proteção na cadeia, Cláudia e Betânia vão enfrentar as incertezas de quem volta pra rua. Para O Cárcere e a Rua, a diretora visitou durante três anos a Penitenciária Madre Pelletier, a maior instituição prisional exclusivamente feminina de Porto Alegre, e chegou a entrevistar cerca de 100 detentas, até chegar às três protagonistas.

Cidade Baixa (2005) de Sérgio Machado.
É um triângulo amoroso entre uma prostituta e dois homens que fazem transporte marítimo. Eles seguem para a Cidade Baixa de Salvador. Entre as dificuldades de relacionamento, o filme mostra o cotidiano das pessoas dessa região. Fala de pobreza, drogas, prostituição e violência. Deco e Naldinho ganham a vida fazendo fretes e aplicando golpes a bordo de um barco. Quando conhecem a stripper Karinna, os dois se apaixonam por ela e iniciam uma vida a três. Ciúmes desgastam a relação, e os três se separam, mas não conseguem ficar sozinhos. Eles se reaproximam e se deparam com um caminho sem volta.


Quanto vale ou é por quilo? (2005) de Sérgio Bianchi
Baseado no conto "Pai Contra Mãe", de Machado de Assis. Uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de fachada. No século XVII um capitão-do-mato captura um escrava fugitiva, que está grávida. Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a escrava aborta o filho que espera. Nos dias atuais uma ONG implanta o projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada. Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver.


Atos dos homens (2006) de Kiko Goifman
Um massacre ocorrido na Baixada Fluminense transformou um documentário sobre sobreviventes de chacinas em um filme sobre a violência no Rio de Janeiro. Em 31 de março de 2005, um mês antes do início das filmagens, uma matança nas cidades de Nova Iguaçu e Queimados mudaria profundamente o argumento do projeto. A realidade tão próxima fez com que o foco fosse direcionado ao cotidiano dos moradores daquela região, mostrando a profunda desigualdade social e a banalização da morte, que se transforma num modo corriqueiro de resolução de conflitos. A premissa detém-se no extermínio, nos matadores e no desejo de viver dos moradores da região.


Anjos do Sol (2006) de Rudi Lagemann. Maria (Fernanda Carvalho) é uma jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho.

 

Zuzu Angel (2006) de Sérgio Rezende.
Zuzu Angel é uma estilista de sucesso que divulgou a moda brasileira por todo o mundo. Nos anos 70 Zuzu também travou uma batalha contra a ditadura militar, devido ao desaparecimento de seu filho, Stuart. Stuart fazia parte do movimento estudantil da época, sendo contra a ditadura vigente. Após ser preso, ele é torturado e assassinado por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica, sendo dado como desaparecido político. É quando Zuzu decide denunciar os abusos cometidos pela ditadura, chamando a atenção no Brasil e no exterior.
 

 
Estamira (2006) de Marcos Prado
Estamira é uma mulher de 63 anos que sofre de distúrbios mentais. Ela vive e trabalha há 20 anos no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, um local que recebe diariamente mais de 8 mil toneladas de lixo da cidade do Rio de Janeiro. Com um discurso filosófico e poético, Estamira analisa questões de interesse global.  

 


Tropa de Elite (2007) de José Padilha
Tem como tema o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Um capitão do BOPE quer deixar o posto e busca um substituto, ao mesmo tempo em que 2 amigos se destacam por sua honestidade como policiais. Dirigido por José Padilha (Ônibus 174) e com Wagner Moura e Caio Junqueira no elenco. Foi objeto de grande repercussão antes mesmo de seu lançamento, por ter sido o primeiro filme brasileiro a, meses antes de chegar aos cinemas, vazar para o mercado pirata e a internet. Ao criticar duramente os usuários de substâncias ilícitas, atribuindo-lhes culpa pela expansão do tráfico de drogas e da violência, o filme gerou grande debate na mídia brasileira. As práticas de tortura por parte dos policiais também foram abordadas, gerando questionamentos acerca do fato dos personagens estarem sendo considerados heróis por suas atitudes frente aos bandidos.
Veja polêmica sobre o filme


"Querô" (2007) de Carlos Cortez.
Querô (Maxwell Nascimento) não sabe quem é seu pai e Piedade (Maria Luísa Mendonça), sua mãe prostituta, morreu quando o menino ainda era um bebê. Criado no prostíbulo onde sua mãe morava, em Santos, o menino cresce com a violenta realidade das ruas da cidade paulista. Preso por cometer delitos, tem sua vida marcada pelos maus-tratos na Febem, que marcam a vida na instituição, de onde foge, disposto a recomeçar a vida.


Os 12 trabalhos (2007) de Ricardo Elias
Heracles é um jovem negro, que vive na periferia de São Paulo e que gosta de desenhar. Há 2 meses ele deixou a Febem e agora procura uma ocupação. Por indicação de seu primo Jonas, Heracles passa a trabalhar como motoboy. Em seu período de experiência ele precisa realizar 12 tarefas pela cidade de São Paulo. Para realizá-las Heracles precisa lidar com o preconceito, a burocracia e sua própria falta de malícia no novo serviço.


Batismo de sangue (2007) de Helvécio Ratton
São Paulo, fim dos anos 60. O convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves) passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas). Eles logo passam a ser vigiados pela polícia e posteriormente são presos, passando por terríveis torturas.

 
Baixio das Bestas (2007) de Cláudio Assis

Auxiliadora (Mariah Teixeira) é uma jovem de 16 anos explorada por seu avô, seu Heitor (Fernando Teixeira). Ele vê falta de autoridade em tudo à sua volta, mas não pensa duas vezes antes de explorar a neta. Cícero (Caio Blat) pertence a uma conhecida família local e está apaixonado por Auxiliadora. Mas para tê-la ele precisará enfrentar o avô dela.  


Meu Nome Não É Johnny (2008) de Mauro Lima.
O filme conta a história de um jovem da zona sul carioca que se torna o rei do tráfico de drogas nos anos 90. João Guilherme Estrella é um típico jovem de classe média da Zona Sul carioca. Adorado por seus pais e amigos, viveu a vida intensamente, passou por todas as loucuras permitidas e não permitidas, e nos anos 80 se aventurou no mundo do tráfico e tornou-se um rei. Investigado pela polícia e preso, tem seu nome e seu rosto exposto em jornais e revistas. Ao invés de festas, ele passa freqüentar o banco dos réus, onde conta a sua história e tramas da juventude. 
 


Última Parada 174 (2008) de Bruno Barreto. Roteiro: Bráulio Mantovani. Rio de Janeiro, 1983. Marisa (Cris Vianna) amamenta o pequeno Alessandro (Marcello Melo Jr.), em sua casa na favela. Viciada em drogas, assiste, impotente, seu filho ser retirado de suas mãos pelo chefe do tráfico local, devido a uma dívida não paga. Dez anos depois Sandro (Michel Gomes), filho único, vê sua mãe ser morta por dois ladrões. Apesar de ficar sob os cuidados da tia, ele decide fugir e passa a conviver com um grupo de garotos que dorme na igreja da Candelária, onde tem acesso ao mundo das drogas. Apesar de não saber ler ou escrever, Sandro sonha em ser um famoso compositor de rap. Para tanto ele espera a ajuda de Walquíria (Anna Cotrim), que realiza um trabalho voluntário junto a meninos de rua. Só que Sandro testemunha mais uma tragédia, a chacina da Candelária, onde 8 meninos de rua foram mortos pela polícia. Este evento aproxima Sandro e Alessandro, que passam a ter um forte convívio.  
Veja comentário sobre o filme 

 

Juízo (2008) de Maria Augusta Ramos. Roteiro: Maria Augusta Ramos.
Juízo acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade diante da lei. Meninas e meninos pobres entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação de jovens infratores é vedada por lei, eles são representados no filme por jovens não-infratores que vivem em condições sociais similares. Todos os demais personagens de Juízo - juízes, promotores, defensores, agentes do DEGASE, familiares - são pessoas reais filmadas durante as audiências na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos menores infratores.
 

 
Território e violência (2008), de Rute Imanashi Rodrigues e Patrícia S. Riviero.
Documentário que complementa a pesquisa "Indicadores de Proteção e Risco para a instrumentação de Políticas Públicas em Favelas no Rio de Janeiro", realizada no IPEA com apóio da FAPERJ no ano 2008. Neste mostram-se os principais locais onde estão concentradas as moradias das vítimas de homicídio na cidade assim como as características desses locais do ponto de vista da estrutura urbana, social, econômica e ambiental. Através de depoimentos com especialistas em urbanismo, em segurança pública e com moradores são analisadas as possíveis causas que fazem com que as favelas concentrem a maior parte das vítimas de homicídio assim como também as ações mais letais e violentas da polícia. As entrevistas vão indicando também quais têm sido as políticas que contribuíram para chegar a esta situação e quais políticas poderiam mudar o quadro de segregação social urbana através da violência. 

 
Vozes (2009), de Anna Costa e Silva, Fábio Canetti e Luiza Santoloni
Uma reflexão poética sobre a mente humana e sua loucura , tendo como base depoimentos de pessoas com transtornos psíquicos.

Assista

 
O contador de histórias (2009) de Luiz Villaça. 
Baseado em fatos reais. Belo Horizonte, fim da década de 70. Aos 6 anos, Roberto Carlos Ramos já demonstra enorme talento para contar histórias. Caçula de dez irmãos e morador de favela, é o escolhido por sua mãe para ir viver numa nova instituição anunciada pelo governo como uma oportunidade para aqueles que viviam na pobreza.

 
Cidadão Boilesen (2009) de Chaim Litewski
Um capítulo sempre subterrâneo dos anos de chumbo no Brasil, o financiamento da repressão violenta à luta armada por grandes empresários, ganha contornos mais precisos neste perfil daquele que foi considerado o mais notório deles. As ligações de Henning Albert Boilesen (1916-1971), presidente do grupo Ultra, com a ditadura militar, sua participação na criação da temível Oban – Operação Bandeirantes – e acusações de que assistiria voluntariamente a sessões de tortura emergem de diversos depoimentos de personagens daquela época.

 
Entre e luz e a sombra (2009) de Luciana Burlamaqui
O documentário investiga a violência e a natureza humana a partir da história de uma atriz que dedica sua vida para humanizar o sistema carcerário, da dupla de rap 509-E formada por Dexter e Afro-X dentro do Carandiru e de um juiz que acredita em um meio de ressocialização mais digno para os encarcerados. Durante sete anos, a partir do ano 2000, o documentário acompanha a vida destes personagens.
Veja trailer e análise do documentário:
http://www.cinema.com.br/filmes/entre-a-luz-e-a-sombra.html


A casa dos mortos (2009) de Débora Diniz.
Um olhar sobre a realidade dos manicômios judiciários. O documentário tem como Bubu como personagem guia que mostra como estas instituições condenam à prisão perpétua a loucura. O filme relata a história de Jaime, Antônio e Almeirindo, considerados perigosos ao convívio social, seu castigo supremo será o suicídio, o ciclo de internações consecutivas ou a sobrevivência em condições inaceitáveis na casa do mortos (ou o cemitério dos vivos, na lírica de Lima Barrreto). O documentário pode ser visto no seguinte link: http://www.acasadosmortos.org.br/


Leite e ferro (2010) de Claudia Priscilla
Maternidade no inferno. O documentário "Leite e Ferro" revela a vida numa cadeia de São Paulo destinada às mulheres que estão amamentando; depois de quatro meses de convívio, as presas são separadas dos filhos.

Veja matéria sobre o documéntário

 
Tropa de Elite 2. Agora o inimigo é outro (2010) de José Padilha
Três anos após o sucesso do primeiro, Tropa de Elite 2 aparece como um projeto cinematográfico de grande repercussão, executado pelo cineasta José Padilha, também envolvido com a direção e produção de documentários e longas-metragens, tais como Ônibus 174 (2002), Estamira (2005), entre outros.
Padilha retorna em 2010 apontando para locais diferentes. Como diz o título, o inimigo agora é outro. Na trama, Wagner Moura, novamente como Nascimento, mas não mais como capitão e, sim, coronel, troca a farda pelo terno e começa a lidar com a criminalidade carioca do ponto-de-vista do administrador. O truculento capitão Nascimento do primeiro filme agora se vê em situações em que ética e valores pessoais são o principal ponto de tensão. Ainda assim, não deixamos de ver uma ou outra seqüência em que é possível recordar as cenas de violência explícita protagonizadas por Moura, que, para o bem ou para o mal, constituem um dos motivos responsáveis pela grande rentabilidade do longa. O realismo de Padilha parece conquistar o público mais pela brutalidade dos personagens do que pelo novo dado somado à história: a noção de uma justiça igualitária representada pelo personagem do defensor dos direitos humanos.
Ao fim, aquilo que era conflito se transforma em reabilitação para o protagonista. Agora imbuído de uma faceta moralmente elevada, o coronel Nascimento passa a utilizar como munição não a artilharia pesada do primeiro filme, mas sua própria voz para denunciar as faces mais obscuras da corrupção. O Estado que deveria prover o bem-estar e garantir os direitos de cada cidadão encontra-se falido e a mercê não apenas do tráfico, mas de milícias e de um “sistema” corrupto.
Não é possível saber até que ponto o filme reflete a realidade, mas claramente baseia-se em situações reais. No livro Elite da Tropa, de 2006, escrito pelos policiais André Batista e Rodrigo Pimentel e pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, é possível identificar alguns dos personagens e das situações apresentadas ao longo da película.
Em suma, trata-se da tentativa de representar uma realidade cuja complexidade não pode ser esgotada em 116 minutos. Entretanto, não deixa de encontrar validade na medida em que propõe o debate sobre a questão da segurança pública, tão pouco e superficialmente discutida até então.

 
Cinco vezes favela. Agora por nós mesmos (2010) de Manaíra Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos e Luciana Bezerra.
Funk carioca, arroz com feijão, pipa e, claro, tráfico e violência aparecem neste projeto capitaneado por Cacá Diegues e Renata Almeida Magalhães. O filme-documentário reúne curtas-metragens realizados por jovens cineastas originários de comunidades do Rio de Janeiro. Os diretores retratam sua visão em cinco segmentos sobre a vida das pessoas que moram nas favelas.
 
Veja trailer no YouTube


Salve Geral (2009) de Sérgio Rezende. Produção: Joaquim Vaz de Carvalho. Roteiro: Sergio Rezende e Patrícia Andrade.
“Dá um salve geral!”. Esse foi o código utilizado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para dar início à uma violenta onda de ataques que assolou o estado de São Paulo no mês de maio de 2006. Os ataques tinham como alvo delegacias de polícia, viaturas e bases da polícia militar e da guarda civil metropolitana. Foi uma reação contra a transferência de mais de 700 presos ligados ao PCC, entre eles alguns líderes, para presídios de segurança máxima. Esse é o pano de fundo onde se desenvolvem as histórias nesse filme do diretor Sérgio Rezende.
De uma realidade quase documentária, ao retratar a onda de ataques, o filme aborda a capacidade de organização e o poder de fogo do PCC. No filme, Andréa Beltrão interpreta Lúcia, uma professora de piano viúva cujo filho, Rafael, foi preso por assassinato. Na cadeia, Rafael se vê cooptado a trabalhar em prol do “partido”, respeitando a hierarquia e as regras impostas pelos líderes do PCC, ao mesmo tempo em que Lúcia busca uma solução pra libertar o filho preso.

fonte: http://www.observatoriodeseguranca.org/dados/visao